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sexta-feira, novembro 09, 2007

Portugal foi o único país da Europa que reduziu o investimento no ensino superior

Reitor acusa Governo de financiar mais instituições norte-americanas do que portuguesas
«O reitor da Universidade de Lisboa (UL), António Sampaio da Nóvoa, acusou hoje o Governo de cortar no financiamento do ensino superior público, transferindo para universidades norte-americanas, a troco de "contrapartidas reduzidas", verbas superiores às atribuídas a algumas instituições nacionais.
No discurso de abertura do ano académico 2007-2008 da UL, António Sampaio da Nóvoa falou na necessidade de mudança, mas apontou o dedo ao Governo enquanto responsável por alguns entraves a essa mudança, como a "falta de modelos claros e transparentes de financiamento".
O reitor referiu que nos últimos dois anos Portugal foi o único país da Europa que reduziu o investimento no ensino superior, "remetendo as instituições para uma lógica de pura sobrevivência", apesar de estas terem cumprido as suas obrigações, nomeadamente no que respeita ao aumento do número de estudantes e à melhoria da qualidade da formação.
"Mas, ao mesmo tempo, o Governo transfere anualmente para universidades norte-americanas, ao abrigo de acordos interessantes, mas com contrapartidas reduzidas, verbas superiores às que transfere para algumas universidades portuguesas", acusou o reitor da UL.
António Nóvoa criticou também a proliferação de escolas por todo o país, considerando que, com o novo Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, o Governo está a contribuir para essa situação.
"Faz-nos falta uma política corajosa de reordenamento da rede do ensino superior, pondo fim à proliferação de escolas que se criaram por todo o país, com a cumplicidade de poderes nacionais, regionais e locais", afirmou o reitor, acrescentando que "sobre isto, até agora, o Governo nada disse, tendo mesmo aprovado uma lei que convida, estranhamente, a uma maior fragmentação das instituições".
Ainda a propósito do regime jurídico, António Nóvoa reconheceu, contudo, que era necessário um novo modelo de governação das universidades e que esta lei contém inúmeros aspectos positivos, mas considerou que, ao mesmo tempo, "corre o risco de se transformar numa mera reforma orgânico-burocrática".
Para o reitor, só as universidades podem resolver os seus próprios problemas, o que não será possível se lhes for retirada "vida própria" e se forem descapitalizadas e incapacitadas de recrutar recursos humanos qualificados.
"Ao não favorecer a iniciativa, ao valer-se de argumentos de autoridade, ao debilitar as instituições, este Governo cria o desânimo entre todos aqueles que, genuinamente, se batem pelo progresso e pela inovação", disse o reitor da UL, sublinhando que "nada é pior do que a ilusão da mudança que deixa tudo na mesma".
Outra das críticas do reitor da UL prende-se com a falta de revisão do Estatuto da Carreira Docente Universitária, que considera "a mais urgente de todas as mudanças".
O responsável lamenta que, até agora, o Governo nada tenha dito sobre o assunto. "Sem um estatuto que permita recrutar e promover os melhores, pondo fim à mediania e à endogamia, estabelecendo uma ligação forte entre ensino e investigação, é impossível reformar a universidade".
A adopção de novas regras de avaliação e acreditação das instituições de ensino superior é outro aspecto que António Nóvoa considera fundamental para as universidades e nessa matéria deixa um elogio aos governantes.
"Faz-nos falta a adopção de normas exigentes de avaliação e de acreditação, acabando com a multiplicação de cursos que, com a conivência de governos e instituições, tem contribuído para degradar a qualidade do ensino superior. Sobre isto, merece aplauso a iniciativa do Governo: mais e melhor avaliação, feita com critérios internacionais", disse ainda o reitor.
Quanto às medidas que a UL pretende desde já adoptar, no âmbito da sua renovação, o reitor destaca a criação de massa crítica na universidade, o início da revisão dos estatutos (já foi eleita a assembleia estatutária), a junção com outras escolas no sentido de congregar esforços e a atribuição de maior peso às estruturas de investigação.»
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(reprodução integral de notícia do jornal Público - Notícia PÚBLICO - Última Hora - datada de 07/11/08, com o título identificado)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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Comentário: «António Nóvoa reconheceu [...] que era necessário um novo modelo de governação das universidades e que esta lei contém inúmeros aspectos positivos, mas considerou que, ao mesmo tempo, "corre o risco de se transformar numa mera reforma orgânico-burocrática".». Bruxo!

4 comentários:

Regina Nabais disse...

Olá cadima ribeiro,
Como sempre, estou numa de muito
venenosazinha:"Correr risco"? Ora essa! Isto é o que chamo de OPTIMISMO, tudo com letras grandes.
Faz-nos sempre tanta falta ouvir a expressão de pensamentos positivos...
No entanto, para mim, nós estamos é numa situação de «risco de crédito» que, de acordo com a wikipedia, salvaguardando eventuais imprecisões de pormenor, significa que: "Essa situação pode ser causada por problemas financeiros oriundos de uma má administração ou gestão, dificuldades com planos econômicos, etc."
O que é que não cabe num "etc."?
Para si, um abraço grande,

J. Cadima Ribeiro disse...

Cara Regina Nabais,
Estando o mundo "tão perigoso" como está, quem não corre riscos?
Fico contente por sabê-la "entretida".
Um abraço,

Anónimo disse...

A questão do financiamento a universidades americanas com o compadrio de uns quantos reitores e investigadores seus protegidos mostra que as decisões governamentais no sector não são transparentes, como não é transparente a governação num grande número de instituições de ensino superior.

Pacheco-Torgal disse...

Tenham lá um bocadinho de calma.

Quem é que pode categóricamente afirmar que não se presta um melhor serviço ao país em cortar todo o financiamento ao Ensino Superior Português, pagando a Instituições de topo a nivel mundial para fazer o mesmo serviço?

Na verdade, das centenas de milhões de contos que os contribuintes tem enterrado nas Universidades Portuguesas será que se pode dizer que o retorno obtido, não poderia ter sido muito maior nesse caso?

Podia sim senhor.

Se há largos milhares de estudantes coreanos a estudar nas Universidades Norte-Americanas, porque não fazermos o mesmo, em vez de terem que estudar em Instituições onde a mediocridade é a regra.

Eu tenho conhecimento pessoal de dezenas de Professores com o cargo de Associado que não tem um único artigo em Revista Cientifica Internacional, ou se tem é só 1 para amostra. É isto a excelência do Ensino Superior Português?

Contra factos, há bem poucos argumentos.

Na verdade o Ensino Superior Português com rarissimas excepções, é um repositório de individuos que só em Instituições Portuguesas é que conseguiam ter emprego. E enquanto assim for, dou todo o meu apoio ao Mariano Gago que contráriamente aos seus antecessores tem feito obra, goste-se ou não.