SEDES e a defesa da educação utilitarista
(título de mensagem, datada de 9 de Julho de 2008, disponível em Outro Olhar)
Fórum de Discussão: o retorno a uma utopia realizável - a Universidade do Minho como projecto aberto, participado, ao serviço do engrandecimento dos seus agentes e do desenvolvimento da sua região
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1 comentário:
Caro Colega Cadima Ribeiro,
Fui ver o texto do Miguel Pinto, indicado no seu link e apeteceu-me comentar, aqui e lá.
Há muitos anos estudo e me preocupo com a natureza das práticas de ensino e a qualidade das aprendizagens no 1º ciclo. Tantos anos quantos aqueles que levo de um posicionamente divergente da bruma retórica que desfoca o olhar de um visão rigorosa dos problemas da educação. Esse posicionamento advém-me de uma prática de investigação na sala de aula, com os professores e com os alunos. Tudo isto para dizer que discordo do comentário do Miguel Pinto ao excerto do relatório da SEDES sobre a educação. Aproveito o ensejo para transcrever um excerto de um livro recentemente publicado em co-autoria com outro colega:
"Grande parte dos alunos universitários, que se vão tornando professores, não sabe se 5 cm3 está mais próximo da capacidade de uma colher de sopa ou da de um garrafão, pela mesma razão que grande parte dos alunos do 4º ano do 1º ciclo não o sabem. É um facto insofismável que muitos professores não tiveram, também eles, a oportunidade de uma adequada aprendizagem dos conceitos básicos que devem ensinar. Vai-se presumindo que tais conceitos básicos foram aprendidos no ensino básico e, por isso, também não são ensinados nas instituições de ensino superior (Sá, 2002). De presunção em presunção temos como resultado final que os jovens professores vão “ensinar” aquilo que eles próprios não aprenderam. Não resta, pois, para muitos, outra alternativa que não seja tentarem fazer, para os alunos, meras transposições mecânicas das incipientes aprendizagens que os próprios fazem a partir dos manuais escolares, quando são confrontados com a responsabilidade de ensinar. A precária “sobrevivência” conceptual não deixa espaço para a criatividade na concepção de métodos adequados de ensino. Porque só os professores que têm um bom domínio dos conceitos que ensinam são capazes de fazer adequadas simplificações para fins didácticos, conseguem seleccionar os bons exemplos práticos que ilustram tais conceitos, (...) e são capazes de ajudar os alunos a pensar na construção de frutuosas relações conceptuais. Quando assim não é, a aprendizagem torna-se uma experiência árida para as crianças, recheada de excessivas dificuldades. A esta situação não são alheios os resultados dos adolescentes portugueses em estudos internacionais de literacia (Programme for International Student Assessment). (...) [Estamos sempre no fundo da tabela.] (…)Este panorama preocupante impõe como imperativo nacional inadiável um esforço de promoção da qualidade das aprendizagens curriculares no 1º ciclo."
Por isso uma "educação competente" como defende a SEDES é uma necessidade básica do País. As considerações de natureza sociológica/ideológica que relativizam essa necessidade são um luxo que não se compadece com a urgência com que estamos confrontados. Claro que eu conheço aquele ram-ram... "mas o que é uma educação competente? Há sempre um opção ideológica, é preciso dizer qual..." etc. etc. Mas insisto, isso é uma pseudo-discussão, uma perda de tempo.
Um abraço
Joaquim Sá
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