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domingo, agosto 10, 2008

Mudando de assunto: “Onde se fala de Manuela Ferreira Leite e de mau gosto”

“No Notícias do Minho de 9 de Setembro pp., assinado por João Hemingway, surgia um artigo que se reportava a Braga de A a Z, onde, se definia Notícias do Minho do seguinte modo: «sou amigo do director e fica-me mal dizer bem. Faltam algumas coisas, mas sendo o único em Braga que emerge da sociedade civil, é imprescindível que se transforme no jornal de referência».
O leitor mais desatento talvez se questionasse com o que, naquela frase, se queria pôr em destaque na ideia «que faltam algumas coisas», e é por isso que acho louvável a ideia do director de incluir algumas páginas adiante um artigo, na secção «Opinião», que se afigura particularmente esclarecedor. O que é chato, na circunstância, é esse material pecar por excesso ao invés de por defeito, isto é, estar a mais.
A natureza do artigo fica perfeitamente a descoberto logo nos destaques que o editor entendeu fazer, ao enunciar que «o autor lança um olhar sobre questões de fundo do nosso Ministério da Educação» e «gosta de Manuel Ferreira Leite». Tanto bastou para que eu ficasse siderado: eu que me havia convencido que se havia ministério que não tinha fundo nem ponta por onde se lhe pegasse era precisamente o ministério da educação; eu que havia defendido nas páginas deste mesmo jornal que era preciso ser detentor de muito mau gosto para ser atraído pelos olhos ou pelas falas, tudo menos doces, da senhora Manuela Ferreira Leite. Mas é mesmo assim: continua a haver gostos para tudo.
Se os sublinhados do editor são uma obra-prima, que dizer então do conteúdo do artigo propriamente dito?
A resposta não pode deixar de sublinhar: i) o espanto pelo rigor da análise – bem apoiado pela invocação multiplicada de números e índices estatísticos diversos; ii) o espanto e admiração decorrentes do recurso a terminologia técnica identicamente rigorosa, de que retenho especialmente a referência à «revolução da pílula»; iii) o espanto perante a qualidade do discurso literário, bem ilustrado em passagem que se refere às escolas abertas com um só aluno, «este, coitado, sem um condiscípulo para brincar e trocar ideias, dia a dia, ano a ano, acompanhado pelo mostrengo do professor».
E se não fora o espanto, o artigo em epígrafe tocaria pelas perplexidades múltiplas que não podia deixar de despertar no leitor. Já me referi, a propósito, ao fundo do ministério sem fundos, mas que dizer de «caras que não enganam» e de ministros que «devem» ser honestos? Que dizer da expectativa enunciada de virem a ser feitos «edifícios condignos, bem localizados» nos centros urbanos para acolher uma população escolar em franca regressão? Que dizer da notícia sobre o «progressismo» reinante nas repartições e direcções do ministério da educação?
De realçar do conteúdo do artigo a que me venho reportando é ainda a menção que o autor faz à série britânica «Sim, Senhor Ministro». Daí, fica a saber-se que a série não lhe serviu para nada, e mais lhe teria valido continuar a usar o seu tempo assistindo aos concursos e/ou às telenovelas.”

J. C.
(reprodução integral de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/10/07, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

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