Fórum de Discussão: o retorno a uma utopia realizável - a Universidade do Minho como projecto aberto, participado, ao serviço do engrandecimento dos seus agentes e do desenvolvimento da sua região

quarta-feira, dezembro 17, 2008

A avaliação dos professores universitários

Resposta a questões de Cidália Barros, redactora do jornal ComUM online, recebidas em 08/12/04
-----------
P: Concorda com a avaliação aos professores?
R: Concordo. Se se está a referir aos professores universitários, tenho que lhe dizer entretanto que são o corpo de agentes da administração pública que mais são sujeitos a processos de avaliação, situação que remonta há décadas. Note que ninguém progride na carreira, de um nível profissional para outro sem ser sujeito a um processo de avaliação rigoroso, público, em vários momentos.
Aparte a avaliação pelos “pares”, desde a década de noventa do século XX, os professores e investigadores universitários têm sido submetidos a processos de avaliação do respectivo desempenho docente, pelos alunos, e científico, por auditores da Fundação para a Ciência e Tecnologia, no quadro dos centros de investigação em que se integram. Isto para não mencionar a avaliação que lhes era feita pela via da avaliação dos cursos em que leccionavam, conduzida pelas Fundação das Universidades Portuguesas

P: O processo de avaliação pode prejudicar os alunos? Pode também diminuir a qualidade do ensino nas universidades portuguesas?
R: Do que diga antes, decorre que o que está em causa na reclamação tornada pública recentemente pelos sindicatos do sector não é a alteração do que se vem passando em termos de promoção na carreira mas a progressão em matéria salarial associada a escalões remuneratórios existentes, no quadro de um mesmo estatuto científico. Se o processo for informado pelas mesmas regras e não for pensado numa óptica estritamente burocrática (isto é, de preencher papéis e pôr avaliadores a ler relatórios sem fim), este processo não tem que ser nem moroso nem prejudicar o funcionamento normal das organizações. A questão da qualidade do ensino das universidades, no essencial, não releva daí.

P: Os critérios de avaliação são: atitude perante o ensino; atitude perante a universidade; produção cientifica e investigação; esforço de progressão continua. Concorda com estes tópicos?
R: Os critérios que devem presidir à avaliação dos professores e dos investigadores universitários têm que decorrer da missão que está reservada às instituições em que trabalham, que devia ser clara e conhecida mas que nem sempre o é na devida medida. Se olharmos para as orientações que têm vindo da tutela governamental nos últimos anos e para os valores que se têm imposto na comunidade académica, a produção científica, expressa em publicações internacionais, e as patentes registadas têm emergido como os principais parâmetros de aferição de mérito dos professores e investigadores universitários. O esforço de progressão na carreira é balizado pela própria duração dos contratos e pelas exigências a que têm que sujeitar-se para progredirem para o patamar administrativo-científico seguinte. A atitude perante o ensino tem sido aproximada por diferentes vias, não se tendo libertado de grande dose de ambiguidade, nomeadamente quando se confunde com sucesso escolar dos alunos.
Querendo olhar para a missão das universidades, percebe-se facilmente que a extensão universitária e a pertinência da acção das instituições e dos seus agentes não têm sido convenientemente salvaguardados nas orientações de política conduzidas na última década.

Braga, 4 de Dezembro de 2008

J. Cadima Ribeiro

Sem comentários: