«As regras variam de faculdade para faculdade. Nalguns casos basta defender a tese. Noutros é preciso frequentar o mestrado todo.
Se tem uma licenciatura anterior a Bolonha (de quatro ou cinco anos) e quer tirar um mestrado, saiba que pode fazê-lo completando apenas algumas cadeiras e a tese final. No entanto, tenha o cuidado de verificar com a sua faculdade antes. É que nem todas seguem a recomendação do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas.
"Não fazemos essa creditação. Foi uma recomendação do CRUP, não uma obrigatoriedade. Connosco, o produto licenciatura e mestrado é muito diferente do antigo sistema", afirma José Ferreira Machado, director da Nova School of Business and Economics. "Quem tem uma licenciatura tem de fazer o mestrado todo. Nós não admitimos pessoas com experiência profissional nos nossos mestrados", sustenta Ferreira Machado.
É uma excepção à regra, mas não é a única. João Duque, presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), declara sem rodeios que quer "fornecer conhecimentos, não oferecer diplomas". O ISEG "não tem nenhum programa" específico para licenciados pré-Bolonha, até porque "não tem possibilidades de aumentar mais os cursos, há limites orçamentais", revela o presidente do ISEG.
O que está em causa é a recomendação às universidades para creditarem "os diplomados que tenham terminado as suas licenciaturas ao abrigo do sistema de graus anterior ao Processo de Bolonha [que] deverão poder obter o grau de mestre, inscrevendo-se num ciclo de estudos de mestrado da especialidade, solicitando a creditação da formação adquirida na respectiva licenciatura e realizando uma dissertação de pendor científico ou profissional". A recomendação do CRUP inclui também outra regra: para os licenciados com mais de cinco anos de experiência, a creditação pode realizar-se "apresentando, em alternativa à dissertação, um relatório detalhado sobre a sua actividade profissional".
Além disso, segundo o CRUP, "as exigências complementares para a atribuição do grau de mestre para os diplomados que terminaram as suas licenciaturas nessa especialidade ao abrigo do sistema de graus anterior ao Processo de Bolonha, para além da dissertação ou do relatório, não deverão ultrapassar um máximo de 20 ECTS [créditos, segundo Bolonha]".
A Universidade de Coimbra usa, no entanto, o limite máximo de 30 ECTS . No ISCTE-IUL, "o número de créditos para completar o grau de mestre varia de curso para curso (entre um mínimo de 42 a um máximo de 60 créditos), mas existe o princípio de que o primeiro ano curricular do curso de mestrado a que se candidata será automaticamente alvo de dispensa por creditação da formação anterior pelo ISCTE-IUL", esclarece Carlos Sá da Costa, vice-reitor do ISCTE.
A hipótese de não precisar de completar cadeiras para fazer o mestrado - que, actualmente, equivale a dois anos após os três da licenciatura - só existe para quem já tem mais de cinco anos de experiência profissional. Responsável pelas áreas de pedagogia e primeiro e segundo ciclos da Universidade de Coimbra, Manuela Alarcão explica o processo de creditação. "A pessoa candidata-se e apresenta um currículo detalhado para que o Conselho Científico possa ter uma ideia de quem é e qual o percurso profissional que fez", esclarece. Assim que os serviços académicos reconhecerem a formação e até as competências que o candidato adquiriu, na faculdade e depois dela, "é-lhe creditada toda a formação académica e, eventualmente, alguma formação profissional.", diz Manuela Alarcão.
"Se houver alguma área do conhecimento que se veja que está em falta, a essa pessoa é indicada a necessidade de concretizar alguns ECTS em unidades curriculares, até um máximo de 30, segundo a recomendação da universidade. Além disso, é ainda exigido um relatório da actividade profissional cuja organização é definida pelo Conselho Científico, relatório esse que depois é sujeito a defesa pública", conclui.
Mas a procura deste tipo de creditação ainda é limitada. "Os casos que eu conheço têm a ver com pessoas que estão interessadas em seguir uma carreira de investigação académica ou pessoas que ficaram desempregadas", diz Helena Pereira, vice-reitora para os serviços académicos da Universidade Técnica de Lisboa. Também porque "isto ainda tem alguns custos, as pessoas têm de pagar um ano de propinas", adianta Helena Pereira.
Na Universidade de Lisboa a regulamentação sobre esta matéria deverá ser aprovada na reunião do Conselho Universitário de 28 de Julho. Portanto, se tem uma licenciatura pré-Bolonha e quer tirar um mestrado, o melhor é contactar a sua faculdade primeiro.
Alexandra Lauw ficou desempregada depois de seis anos a trabalhar numa empresa privada, mas não ficou parada. "Os meses iam passando e tive que arranjar outras alternativas - o mestrado foi uma delas, e resultou", conta Alexandra, que frequentou a UTL. "O meu curriculum vitae foi avaliado por uma comissão e tendo em conta a minha experiência profissional e formação complementar realizada depois da licenciatura, foi-me comunicado que não teria de fazer nenhuma cadeira, apenas a tese.", continua a engenheira florestal, que já pensa no doutoramento.
"Decidi tirar mestrado porque, após mais de dez anos numa empresa privada, regressei ao mundo da investigação e tornei a ser bolseira de investigação do Centro de Estudos Florestais", explica Vanda Oliveira, do Instituto Superior de Agronomia. "Ora quando se decide enveredar pela investigação na óptica de carreira os graus académicos são extremamente valorizados e tirar o mestrado tornou-se o óbvio a fazer", resume. Para isso, teve de completar uma dissertação num área nova para ela. Hoje, trabalha no Centro de Estudos Florestais.
"Curiosamente notou-se um pouco a discrepância de idades, mas encontrei também alguns colegas um pouco mais velhos, não sei se por as pessoas apostarem também na formação a qualquer idade", diz Pedro Matias. Formado em Engenharia Informática, entrou na sua licenciatura em 1989 e completou agora o seu mestrado, na mesma área, na Universidade de Coimbra. Teve apenas de fazer uma cadeira e a dissertação. "Soube-me a pouco, fiquei com vontade de enveredar por um doutoramento ou outro mestrado", acrescenta.
Andrea Duarte»
(reprodução de artigo Diário Económico, de 23/07/11)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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