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sábado, dezembro 04, 2010

O Ensino Básico e Secundário e a Crise em Portugal em 2010 - quinta e última parte

8 - ENSINO DE ARTES E OFÍCIOS. Não existe!
É um princípio fundamental de qualquer “sistema de produção”, a divisão dos produtos em “produtos de 1ª escolha”, “produtos de 2ª escolha” e “refugo”. Mas tem que realizar-se o aproveitamento de tudo. A “produção” de pessoas com mais ou menos “qualificações oficiais” tem, numa Sociedade equilibrada, de obedecer a este mesmo princípio. Não se trata de “elitismo”, trata-se da “aptidão de cada um”. Todas as pessoas devem nascer “iguais em direitos” (e em deveres), mas, por natureza, elas não nascem com iguais dotes naturais (a biodiversidade, também entre os humanos, é a maior riqueza do planeta). Por isso, todas as pessoas devem, numa Sociedade equilibrada, serem respeitadas de modo igual, qualquer que seja a sua profissão, desde que seja exercida com honestidade e competência: ao varredor deve-se a mesma consideração que ao professor catedrático, mas “chacun à sa place”.
É verdade que tanto a Revolução Cultural Chinesa como a Revolução do 25 de Abril em Portugal tentaram inverter esta situação natural. Mas as acções nesse sentido, que persistem em Portugal, e não na China de hoje, estão condenadas ao insucesso: Insucesso Escolar, Insucesso Económico, etc.. Quer-se com isto dizer que, em vez de tentarem com facilitismos e mais facilitismos evitar o Insucesso Escolar e o Abandono Escolar, devem os governos, todos os governos, procurar “reciclar” os alunos menos dotados no que diz respeito a “massa cinzenta”, mas, por ventura, mais dotados no que diz respeito ao uso das mãos . Menos dotados para atingirem o 12º ano da Escola Normal, mas, porventura, mais dotados para atingirem o 12º ano de uma “Escola Técnico Profissional” independente, dirigida por entidades locais, mas digna desse nome. Menos dotados para atingirem o 12º ano de uma “Escola Técnico Profissional”, mas, porventura, mais dotados para atingirem o 9º ou o 6º ano de uma “Escola de Artes e Ofícios”: Picheleiro (Canalizador), Sondador (Geotecnia), Trolha, Electricista, Carpinteiro, Pintor, Estucador, Vidraceiro, Pescador, Limpa-Chaminés, Cozinheiro(a), Empregado(a) de mesa, Bordadeira(o), Alfaiate, Sapateiro, Relojoeiro, Ama ou “Babysitter”, Barbeiro, Cabeleireiro(a), Jardineiro(a) ,Empregado(a) Doméstica(o), Cantoneiro(a), Auxiliar de Limpezas, Empregado(a) de Creches, Motorista, Vendedor, Caixeiro Viajante, etc., etc.

9 - A BEM DE UMA REFORMA ESTRUTURAL DA ECONOMIA EM PORTUGAL, SERÁ POSSÍVEL ELIMINAR ESTA PESADA HERANÇA DA REVOLUÇÃO CULTURAL PORTUGUESA, QUE PERSISTE?
Tememos bem que não. Seria preciso uma outra Revolução. De facto, o Ministério da Educação, desde o 25 de Abril, está quase dominado pelo Sindicato dos Professores. É o Presidente do Sindicato que o diz publicamente na televisão, “com pompa e circunstância”, sem qualquer desmentido de alguém desse Ministério. Os funcionário do ME são “de carreira” e, portanto, “inamovíveis”. A grande maioria está lá desde o 25 de Abril. As ideias que professam estão à vista e dão os resultados que também estão à vista. O Sindicato dos Professores “nem por sombras” quer ouvir falar de “descentralização do Ensino Público”, pois esse seria o início da sua morte.
Passam governos, sejam de que cor forem, mas ficam as “raízes”. Talvez que as “imposições externas” e a “miséria interna” venham a ter algum resultado. Porque a verdade é esta: Portugal, já que não pode exportar bens materiais de valor suficiente para equilibrar as contas públicas; tem de “exportar” pessoas. Só que essas pessoas, na sua grande maioria, continuam sem poder competir no estrangeiro. Daqui a pouco, nem mesmo em Angola , Moçambique ou Brasil conseguem colocar-se.... Esta situação é que é verdadeiramente gritante.

JBM (Nov. 2010)

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