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domingo, agosto 28, 2011

"Juventude Inquieta. O que querem os miúdos para saírem tanto à rua?"

«Começam com pequenos protestos e são ampliados pelas redes sociais. A revolta das novas gerações está baseada em temas antigos mas conta com novas armas. Entre o desemprego espanhol e o acesso à educação no Chile, um resumo do que leva os jovens à rua e daí às capas dos jornais

Portugal à rasca

O movimento de protesto dos jovens portugueses ganhou relevância na imprensa internacional depois da manifestação de 12 de Março, convocada pelo Facebook, que juntou quase 200 mil pessoas na Avenida da Liberdade em Lisboa. A que ficou conhecida como Geração à Rasca pede melhorias no mercado de trabalho, principalmente para jovens qualificados. Entre as causas do descontentamento está a falta de emprego e a precariedade dos que trabalham a recibos verdes.

A próxima manifestação está marcada para 15 de Outubro.

A educação no Chile

A juventude chilena quer mais participação do Estado nas universidades e o fim dos lucros no sector do ensino.

Os estudantes ocuparam já mais de 100 escolas e universidades. Na quinta-feira juntaram-se a uma greve geral de 48 horas e um adolescente morreu em confrontos entre manifestantes e a polícia. As autoridades chilenas detiveram em dois dias mais de 1300 pessoas. Ao contrário do que acontece com os jovens revoltados noutras partes do mundo, estes têm líder. Chama-se Camila Vallejo, tem 23 anos e está sob protecção policial devido às ameaças de morte que recebe. É presidente da Federação de Estudantes da Universidade do Chile e militante das Juventudes Comunistas do Chile. Segundo uma sondagem de Agosto, mais de 70% dos chilenos está de acordo com as manifestações que os estudantes têm levado a cabo e 68% aprovam o contributo de Camila Vallejo para a luta estudantil, que consideram “muito positivo”.

O acordar na China

As agências noticiosas não conseguem quantificar a intensidade dos protestos na China, mas garantem que estão a aumentar. À CNN, Patrick Choyanec, analista político de Universidade de Tsinghua (Pequim), disse que “por causa da Primavera Árabe e da insegurança económica” o governo tem respondido aos protestos com forte repressão, mesmo que sejam de natureza local”. Desde o início do ano que Hu Jintao pede mais controlo sobre a internet para não “prejudicar a harmonia e a estabilidade da sociedade”.

Indignação espanhola

A manifestação de Março em Portugal inspirou aos jovens espanhóis a criação do movimento Democracia Real já. Começou a 15 de Maio em 58 cidades espanholas, cujas praças foram ocupadas por acampamentos de jovens, algumas delas semanas a fio. Os também chamados Indignados, devido ao livro de Stéphane Hessel, conseguiram que o Prémio Nobel da Economia Joseph Stiglitz lhes desse um incentivo quando passou por Madrid, a 25 de Julho. Entre as preocupações da juventude espanhola destaca-se a taxa de desemprego do país, a mais alta da UE.

Preço da casa em Israel

O maior protesto de sempre na história de Israel aconteceu dia 6 de Agosto deste ano, com 200 mil manifestantes em Telavive e mais de 30 mil em Jerusalém. Slogans? “O governo abandonou o povo” e “uma geração inteira pede um futuro”. Os israelitas estão indignados com o aumento do custo de vida, que dizem não conseguir suportar. Tudo terá começado numa campanha no Facebook, em Junho, contra o aumento do preço do queijo. No mesmo mês, uma vila de tendas foi montada no centro de Telavive, em protesto contra o aumento do preço da habitação no país.

A primavera árabe

A revolta no mundo árabe começou na Tunísia no final de 2010. Mohamed Bouazizi, um jovem de 26 anos, imolou-se na rua em protesto contra os maus tratos policiais. O seu gesto deu início a um movimento que conseguiu destronar o presidente Ben Ali, no poder há 23 anos, em pouco mais de um mês. A Revolução de Jasmim, como foi chamada, inspirou uma série de revoltas que se estendeu ao Egipto, à Líbia, ao Iémen, etc. Neste caso, os jovens protestam contra regimes ditatoriais ou autocráticos, onde o compadrio prevalece. Entre os resultados está a queda de Mubarak, no Egipto, e a de Kadhafi, na Líbia, e uma série de reformas anunciadas por outros governos.

Londres em chamas

Chamaram-lhe uma bomba que teria de rebentar a qualquer momento. Uma marcha de protesto até à esquadra de Tottenham pela morte de um jovem, Mark Duggan, às mãos da polícia, transformou-se num motim quando chegaram ao local vários jovens armados. O rastilho percorreu Londres e daí seguiu para outras cidades do país. Entre pilhagens e incêndios, muitas vezes desencadeados por menores, são calculados prejuízos de 200 milhões de libras em apenas quatro dias. A violência resultou em cinco mortos e mais de 200 feridos (186 polícias). Embora não tivessem reivindicações políticas explícitas, muitos foram os que associaram os incidentes a um número recorde de jovens desempregados.

A corrupção na Índia

O início das manifestações na Índia, na última semana, deve-se a Anna Hazare, um conhecido activista que está há dez dias em greve de fome para exigir uma lei para combater a corrupção. A detenção de Hazare desencadeou protestos convocados através das redes sociais. A imprensa indiana fala de adolescentes que trocaram serões em pubs por vigílias por Hazare. Milhares de estudantes faltam às aulas nas universidades de Mumbai e Nova Deli pelo mesmo motivo. Em entrevista ao “Hidustan Times”, um aluno do Instituto de Tecnologias em Dwarka defendia-se: “Lidamos com a corrupção todos os dias, na estrada, na faculdade. Isto é a nossa hipótese de mudar. Aconteceu no Egipto, porque não aqui?”

A tragédia grega

Os protestos gregos começaram a 5 de Maio de 2010 e nunca mais pararam. Nesse dia, escolas, hospitais e lojas fecharam e três pessoas morreram em confrontos com a polícia. Na altura, os manifestantes revoltavam-se contra as medidas de austeridade anunciadas pelo governo helénico. Já depois disso, o Estado grego foi obrigado a pedir um resgate financeiro à UE e ao Fundo Monetário Internacional. Desde então, os jovens gregos têm acrescentado vários itens à sua lista de contestação – desemprego, cortes salariais, precariedade laboral e perda de soberania devido ao cumprimento das medidas impostas pelo empréstimo – 95% dos gregos concorda com os movimentos estudantis.»

(reprodução de artigo Jornal i, informação online, de 27 de Agosto de 2011)
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[cortesia de Nuno Soares da Silva]

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