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segunda-feira, março 10, 2008

Dos ecos de uma tertúlia sobre a reforma estatutária ao enunciado de duas notas de natureza estratégica

Dentro do propósito de animar o debate sobre a reforma estatutária na UMinho e de trazê-lo para fora das “paredes estreitas” da Assembleia Estatutária (AE), realizou-se no dia 14 de Fevereiro pp., em Gualtar, uma tertúlia em que estiveram em debate diversas facetas da reforma em curso e, em particular, a possibilidade das Instituições de Ensino Superior (IES) de requerem a passagem a fundações públicas de direito privado.
Do que se falou, muita coisa se poderia dizer, a primeira das quais é que valeu a pena. Sendo o mote do evento as fundações, houve espaço para que alguns acusassem outros de neo-liberais. No entanto, Todos disseram que estavam empenhados na construção de uma Universidade mais prestigiada e mais eficaz. Surpreendentemente, falou-se menos do “Zé Mariano” do que se poderia supor, se bem que não tenha deixado de ser feita menção aos fretes que estaria disponível para fazer a Aveiro, ao Porto e ao ISCTE, para não perder a face.
Estando em causa a produção de novos estatutos para a UMinho, surpreenderam-se alguns que a AE estivesse a discutir o modelo de governação, missões e organização sem ter discutido a estratégia ou esboçado um diagnóstico. Percebeu-se depois que a AE tomava como diagnóstico estratégico um exercício de auto-avaliação feito no ano precedente.
Se há espaço para tanta Universidade em Portugal e se faz sentido a concertação de recursos, foram duas outras questões debatidas. Em relação à primeira, arrisco a dizer que estivemos de acordo que não há. O segundo tema é mais complexo e ficou pendente de maior discussão.
Falando de “missão”, vem a talho de foice invocar aqui o episódio curioso de ter sido produzido entretanto um comunicado assinado pelos membros da AE eleitos pela lista do reitor que veio esclarecer a formulação da “nova” missão da UMinho aprovada pela Assembleia Estatutária, e que reza assim:
«A Universidade do Minho tem como missão gerar, difundir e aplicar conhecimento, assente na liberdade de pensamento e na pluralidade dos exercícios críticos, promovendo a educação superior e contribuindo para a construção de um modelo de sociedade baseado em princípios humanistas, tendo o saber, a criatividade e a inovação como factores de crescimento, desenvolvimento sustentável, bem-estar e solidariedade.».
Para que se perceba o alcance do “esclarecimento”, reproduz-se igualmente o dito na passagem relevante:
«A formulação da missão e dos objectivos […] representa um avanço essencial na explicitação das linhas estratégicas que devem orientar a Universidade do Minho, inscrevendo-a num quadro de referência internacional e acolhendo com clareza o propósito de a posicionar como “universidade de investigação”.»
Este episódio é revelador da fragilidade da AE em dimensão tão básica quanto o é o enunciado da missão. Como bem assinalava Vasco Eiriz na ocasião, “Ora, se para compreendermos uma coisa que deveria ser simples como a missão, há necessidade de textos interpretativos (que, aliás, dizem aquilo que a missão não diz), o que será quando os estatutos estiverem elaborados?”. Não se tratasse de coisa séria, seria caso para rir a bom rir.
Não querendo que me acusem de nada adiantar quando os temas são incómodos, deixo aqui duas notas de natureza estratégica. A primeira exprime-se na defesa da construção de uma “universidade do século XXI”, por contraponto das universidades “escolástica” e “clássica”, isto é, uma universidade cujo prestígio resulte do reconhecimento público dos seus docentes e investigadores, da qualidade dos estudantes que capte e da ligação à sociedade que seja capaz de construir. A segunda (via para lá chegar), materializa-se na assumpção clara de áreas prioritárias, suportada na análise estratégica feita (ou a fazer). Na falta desta, pegando na informação que vai emergindo, parece-me razoável admitir que entre elas deverão estar os materiais e os biomateriais, as nanotecnologias, as tecnologias de informação, o planeamento do território e os serviços tecnológicos (electrónica/tecnologias de informação/materiais) e organizacionais (gestão da produção/logística/marketing) à medida.

J. Cadima Ribeiro

(artigo de opinião publicado na edição impressa do ComUM de 08/03/10)

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