«António Rendas, presidente do Conselho de Reitores, revela que será criado um fundo de apoio social para apoiar os alunos que não podem pagar propinas.
A preparar-se para um ano difícil, o Conselho de Reitores (CRUP) decidiu criar um fundo social para apoiar os estudantes que não conseguem pagar as propinas. A ideia foi aprovada no último Conselho de Reitores revela António Rendas, presidente do CRUP, em entrevista ao Económico TV. O aumento de trinta euros de propinas a pagar, no próximo ano, por cada estudante será canalizado para este fundo. Uma ideia solidária num contexto de fortes restrições orçamentais. António Rendas denuncia a "teia burocrática" que está "a impedir as instituições de funcionarem e de contribuírem para a redução do défice, captando receitas próprias". A última gota foi "a nova lei dos compromissos que cria a obrigatoriedade que haja cabimentação a três meses e que vai gerar os maiores problemas no sistema universitário e científico" se continuar a ser imposta às universidades. As instituições de ensino superior são "como um ser vivo que de repente é colocado numa malha de cimento", alerta. E o Ministério das Finanças "parece" inimigo da boa gestão universitária.
António Rendas, fala da fusão da Universidade de Lisboa com a Universidade Técnica de Lisboa para dizer que é "um processo interessante" mas alertando que não pode ser visto "como um acto isolado porque isso seria muito mau".
As restrições orçamentais estão a obrigar a reorganizar a rede de ensino superior?
Uma coisa é a qualidade e excelência da rede, outra coisa são as restrições orçamentais que estão a afectar toda a Europa. As restrições, nestes últimos dois anos, foram dirigidas a todo o sistema de financiamento público e as universidades foram também apanhadas nesta situação. A reoganização da rede deve ser feita com aspectos positivos e não com aspectos negativos. Reorganizar a rede numa situação de penúria financeira não leva à excelência, leva a mais restrições e não queremos que isso aconteça. O que nos preocupa nas universidades é a enorme teia burocrática que está a levar a um atrasar dos processos de tomadas de decisão. Estamos a sentir que, não só os nossos orçamentos foram reduzidos, como os procedimentos administrativos que nos são impostos levam a que esses financiamentos possam nem sequer ser executados. Esta nova lei dos compromissos que cria a obrigatoriedade que haja cabimentação a três meses vai gerar os maiores problemas no sistema universitário e científico. Acho que ninguém quer isso e tenho muito esperança que se resolva. O que tem sido mais complicado é a nossa incapacidade, que habitualmente tínhamos, de gerar receita. As universidades têm características muito especiais: não têm buracos orçamentais, nem dívidas à banca, nem às empresas e têm a capacidade extraordinária de gerar receita. Somos capazes de ir a outras fontes, que não o Orçamento do Estado buscar verbas até no espaço global e europeu. Neste momento estamos ao nível das melhores instituições europeias, se a teia administrativa que está a ser criada nos vai impedir de funcionar é quase como um ser vivo que de repente é colocado numa malha de cimento. E para além disso podemos contribuir para a redução do défice.
Há quem diga que o Ministério das Finanças é inimigo da boa gestão das instituições...
Se não é, parece. E o pior que há é parecer.
A verba do OE 2012 é suficiente para manter todas as universidades a funcionar?
O que está a acontecer é que as instituições estão a reduzir a sua actividade, o que é terrível. Estas situações de restrição orçamental vão ter dois efeitos: vão afectar as instituições que têm o seu metabolismo basal, recorrendo a uma expressão médica, relativamente reduzido, e que o vão reduzir ainda mais, e depois aquelas que são muito competitivas vão ficar desanimadas. E essa é uma componente que me deixa preocupado que é a falta de confiança. Não queremos nem mais dinheiro, nem mais privilégios, e nem queremos que nos cubram as dívidas. O que precisamos de saber da parte do Governo é se existe esse capital de confiança. Tem que haver sinais por parte do Governo. O que neste momento é muito grave para todos nós é que há um clima de falta de confiança e incerteza nesses processos de tomada de decisão. É muito importante que no contexto de funcionamento das universidades nos deixem ter agilidade para a gestão dos nossos recursos, que muitas delas são receitas próprias, que em alguns casos chega a 50%.
Há quem diga que há quatro ou cinco universidades que não são viáveis, neste quadro de restrições orçamentais. Concorda?
Tenho dificuldade em usar rótulos. Acho que o conceito de viabilidade tem a ver com uma situação que em Portugal é muito frequente, e que essa tem que deixar de existir, em que toda a gente acha que deve fazer tudo. Temos é que ser muito selectivos na forma como vamos desenvolver a nossa actividade. Há universidades que tem claramente um carácter internacional, há universidades com carácter regional e local. O conceito de viabilidade tem a ver com aquilo que as universidades realmente fazem. É importante que as universidades se diferenciem. Não faz sentido nenhum, por exemplo, que haja instituições a ensinar grego de norte a sul do país. Deve haver duas ou três universidades que o façam muito bem nessa área. Tem que haver alguma capacidade de olhar para a rede como um todo e definir indicadores de qualidade que permitam, com a aceitação das instituições - instituições que assumam compromissos de desenvolvimento regional, outras de grandes desafios internacionais devem ser todas recompensadas, não deve ser uma coisa de excepção. Definidos esses pré-requisitos, temos que verificar se as instituições são ou não viáveis. A palavra em si é redutora.
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(reprodução parcial de entrevista Económico online, de 2012/03/05)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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