«As universidades públicas não fazem falta. São um sorvedouro de dinheiro dos contribuintes. Ensinam umas coisitas. Põem na rua uns diplomados que, não tendo emprego, vão para a estranja passear ignorância.
Um despacho da semana passada do Ministérios das Finanças, generoso como sempre, impede contratos em áreas estratégicas para as universidades que conseguiam financiar-se através de receitas próprias.
As receitas não provêm do Estado. Mas este manda nelas. São os sólidos fundamentos da autonomia do ensino superior. É a Lei da Conservação das Massas, de Lamonosov, que Lavoisier amplificou mundialmente: nada se perde, tudo se transforma.
O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), queixa-se da situação criada, "verdadeiramente sufocante". Exagera. Enquanto houver uma bolhinha de oxigénio nada se perde, tudo se transtorna.
Queixinhas de miúdos. O presidente do CRUP está injustamente a atacar o ministro Vítor Louçã Rabaças Gaspar.
Não é crível que este professor universitário, licenciado pela Católica e doutorado pela Nova, não ame as instituições a que deve muito. Muito ou pouco católica a primeira é privada, coisa que o ministro adora; a Nova, embora estatal, não cheira a velha como a Universidade de Coimbra ou a Universidade de Lisboa, parida pela República.
O primo direito de Francisco Louçã, e também infalível economista, é o verdadeiro primo às direitas que nós portugueses tanto gostamos de ter na famelga. Não venerámos durante quarenta anos um salvador da família e da pátria?
Rabaças Gaspar é primo querido, émulo do saudoso santacombadense, igualmente de origens beirãs. Não é por acaso que os colegas de governo o designam por "Salazarinho".
Sovina como o nosso egrégio avô António, só não tem a voz sibilante do comprovinciano. Tenta o que o outro fez. António quis tutelar todos os ministérios e conseguiu. Deram-lhe a presidência do Conselho. Ficou a tutelar a pátria até cair da cadeira.
O émulo Vítor, se tombar da cadeira não se aleija, porque está mais perto do solo. E, se não chegar a presidente do Conselho, voltará para dar conselhos em Bruxelas. À universidade já não deve regressar. A não ser para presidir a alguma comissão liquidatária.
Rabaças não engana. Este apelido beirão designa "fruta verde". Mas vai amadurecer. Significa também, em sentido figurado, "pessoa desengraçada". Aqui não corresponde.
Rabaças Gaspar é engraçado e ainda não caiu. Só caiu em graça. Pequenino, calcinha pela canela, maneirinho como um matraquilho ou um boneco da cachamorrada, soube impor-se à admiração de todos. É um top model em miniatura. As mulheres sucumbem ao seu bafo eloquente. Tarda em arrancar. Mas embala. Sempre em primeira. Nunca deita fumo.
Rabaças Gaspar é um santo competente. Faz milagres financeiros. Acerta em tudo. Não falha uma décima. Tem a sensibilidade social de um franciscano, mas maior autoridade moral. Fez voto de pobreza para si e para os outros, não todos, Persegue inefável mais justiça e equidade. E deixa vergastar-se pela incompreensão e maledicência dos indígenas.
Esteve a viver à larga como director do Gabinete dos Conselheiros de Política Europeia de Durão Barroso. Tudo abandonou em Bruxelas por uma causa. Não causa dano. Vai sair da espinhosa missão com uma mão à frente e outra atrás até aparecer andrajoso à porta de alguma PPP a pedir um papo-seco. Mas o país avança. Às arrecuas.
Os reitores que se deixem de egocentrismos científicos. Sejam patriotas! Os fundos privados obtidos pelas universidades fazem falta para tapar o buraco do Orçamento. Fechem as portas. Era tratará da venda do património nesta nova era. O Estado precisa de liquidez.
Deixem a investigação e o ensino para quem sabe. Alguma universidade pública tem os ganhos de eficiência de uma privada? Digam-me qual a universidade estatal que conseguia formar turbo-Relvas? Impossível.
Portas cerradas e pronto. Cada aluno e aluna agradece. Deixa de pagar propinas. Cada professor e professora também. Fica em casa a investigar a expensas próprias e a dever a casa ao banco.
E o conselho de reitores? Já estou a ver cada membro, pupilas dilatadas, a suspirar pelas pupilas do senhor reitor...»
(reprodução de artigo EXPRESSO, através de http://expresso.sapo.pt/ fechem-as-universidades= f754652 - José Alberto Quaresma)
[cortesia de Nuno Soares da silva]
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