«Mário Nogueira diz que o próximo ano lectivo será "um dos piores de sempre" no pós-25 de Abril, marcado pelo "verdadeiro" impacto dos cortes na Educação.
"Até agora não houve uma perceção completa, como a que surgirá com o arranque do ano escolar, dos efeitos dos cortes orçamentais da Educação, maioritariamente aprovados este verão", sublinha Mário Nogueira, admitindo que o cenário se agrave ainda mais na segunda metade do período letivo, na sequência de novas medidas impostas em sede de Orçamento de Estado para 2013.
Em entrevista à agência Lusa, Mário Nogueira considera que o ano letivo vai ficar marcado por um desemprego sem precedentes na classe docente, pela degradação da qualidade de ensino, e por um maior abandono escolar, porque, numa altura em que a escolaridade obrigatória aumenta de nove para 12 anos, as famílias estão sem dinheiro e a Ação Social Escolar também.
Ao elencar as medidas que, na sua perspetiva, vão abalar negativamente os alicerces do sistema público de educação, Mário Nogueira destaca, desde logo, a constituição de 150 mega agrupamentos, criando, em alguns casos, espaços escolares com mais de 4.000 alunos.
"É a desumanização da escola, daquilo que é a relação do professor com o aluno. Do ponto de vista pedagógico, é um absurdo completo", critica.
A revisão curricular, "que veio empobrecer os currículos nos ensinos básico e secundário", é outro dos alvos do dirigente da Fenprof, já que "não correspondeu a qualquer reflexão, nem a qualquer conclusão de uma avaliação, mas, simplesmente, à necessidade de acabar com disciplinas para pôr gente [professores] na rua".
Para tornar o desemprego dos professores "enorme" e pôr as escolas "cheias de horários zero", concorre também o aumento do número de alunos por turma e o fim de projetos que muitos estabelecimentos de ensino mantinham no âmbito da promoção do sucesso educativo e do combate ao desemprego.
Para as famílias, "que estão muito fragilizadas do ponto de vista económico-financeiro", os problemas vão sentir-se de forma mais intensa, na medida em que uma Ação Social Escolar, "também ela debilitada", não lhes irá fornecer os apoios expectáveis, muito mais agora que a escolaridade obrigatória aumenta para 12 anos.
No caso do Ensino Superior, Mário Nogueira prevê que se repita, e até se agudize, um cenário de abandono de "milhares de alunos". As famílias estão sem dinheiro para pagarem propinas "com valores exorbitantes" e os custos de alojamento dos filhos nas imediações das universidades, diz.
Tudo somado, faz com que o líder da Fenprof preveja que 2012/2013 se torne "um dos piores anos letivos de sempre" desde 1974, ano em que foi reinstaurada a democracia em Portugal, com "piores condições de funcionamento e de aprendizagem e mais dificuldades para as famílias terem os filhos a estudar".
As aulas nos ensinos básico e secundário começam entre 10 e 14 de setembro.»
(reprodução de notícia Económico online, de 03/09/12)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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