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terça-feira, setembro 05, 2006

Um sistema que penaliza os docentes pelas falhas dos alunos

“Neste começo de novo ano lectivo, a leitura do artigo do New York Times que lhe envio em anexo (c.f. referência e URL abaixo) deu-me vontade de, a seu propósito, escrever alguma coisa. [...].
Devo desde já dizer que nunca tive problemas de relacionamento com alunos, e penso ser um docente de que, habitualmente, gostam, embora considerem demasiado «exigente». Mas o facto é que me custa imenso ter de alinhar em toda uma onda de facilitismo em que os docentes parecem dever sentir-se e ser responsabilizados pelas más prestações dos alunos. Até parece que devemos ser responsabilizados pelas inoperâncias de 12 anos de ensino que trazem consigo quando entram na Universidade. A lógica, agora (desde há bastantes anos...), é passar o aluno, a não ser que se trate de um caso clamoroso. Pelo menos, é o que verifico nas áreas que me são mais próximas.
Tenho tido alunos que mal sabem escrever português e obtêm 16 noutras disciplinas. E julgam-se os «maiores», com muito jeito para o português. Obviamente, num sistema que penaliza os docentes pelas falhas dos alunos, os docentes inflacionam as notas para não terem chatices. Os alunos aparecem-nos com poucos conhecimentos e sobretudo motivados para o lazer (praxes, etc., etc.). Depois, temos de ser nós, docentes, a fazer cursos para os «animar», incentivar e «acompanhar» no estudo, quando precisávamos nós de frequentar cursos que aumentassem a nossa auto-estima como docentes da Universidade do Minho.
Teremos nós de resgatar as inoperâncias de 12 anos de escolaridade?... De um modo mais directo: teremos nós de pagar pelos erros de outros ou de um sistema de ensino que funciona mal? Temos de passar os alunos só por causa das estatísticas? E temos de «acompanhá-los» como se fossem criancinhas desprotegidas no mundo? Muitas vezes, quando dou aulas suplementares de esclarecimento de dúvidas com vista aos exames, não me colocam grandes dúvidas, querem simplesmente uma revisão da matéria toda em duas horas para não terem de estudar em casa...“

Daniel Castro

Anexo:
“At 2-Year Colleges, Students Eager but Unready”,
By DIANA JEAN SCHEMO,
The New York Times,
September 2, 2006.
http://www.nytimes.com/2006/09/02/education/02college.html?_r=1&th=&adxnnl=1&oref=login&emc=th&adxnnlx=1157192077-G+yk/k+dY3we4tD

(reprodução parcial de mensagem electrónica recebida em 06/09/02)

1 comentário:

J. Cadima Ribeiro disse...

Separados por 10 anos, este e o texto anterior (Este Minho é uma festa) têm tanto em comum. Parece até que, neste caso, o "mundo" roda mais devagar do que comummente se assume, nos dias de hoje.

Kadima