Deixada que foi a saudação aos subscritores do “MANIFESTO: POR UMA UNIVERSIDADE CIDADÔ por virem a terreno, nesta ocasião, com um enunciado de ideias sobre a Universidade (UMinho) que dizem querer e de propostas para a reforma estatutária que se avizinha, aceitando o seu convite para o debate, que só peca por surgir tardiamente, deixo-lhes, para já, cinco perguntas. São cinco porque são apenas três as ideias-força que leio na sua mensagem e não me fica bem responder-lhes com uma multiplicidade de questões.
i) Primeira ideia-chave do “MANIFESTO”: “Entendemos que o RJIES não dá resposta positiva a alguns dos mais importantes anseios expressos por variados sectores universitários”.
Temos aqui o assumir da crítica (da rejeição?) do RJIES. Crítica legítima, sem dúvida, que partilho, em grande medida. O problema é que se me sugere fora de prazo. Daí a 1ª pergunta que me ocorre endereçar aos meus caros colegas: o desafio de hoje não é já o da implementação da lei (boa ou má, limitando-lhe os estragos)?
ii) Segunda ideia-chave do “MANIFESTO”: "Insistimos, pelo contrário, em considerar que a Universidade é uma comunidade de professores, estudantes e funcionários não docentes que se deve abrir à sociedade, assumindo-se como uma “cidade” que se auto-governa democraticamente. Única forma, de resto, de permitir a construção colectiva de uma Universidade cidadã […]".
Se lhe juntarmos a proposta de um Conselho Geral consituído por 35 elementos, é a fuga populista do discurso. Partilhando da ideia de universidade como comunidade e como espaço de liberdade, encontro neste enunciado a dificuldade de perceber o que é que isso tem que ver com a existência de órgãos de orientação estratégica, de composição restrita e integrando membros externos, e que é que isso tem que ver com a exigência de diálogo e negociação entre o reitor, nomeado, e a dita comunidade universitária. Isso leva-me à 2ª pergunta: foi o auto-governo e a eleição do reitor por uma assembleia algo mais alargada do que a que é possível hoje constituir que garantiu no passado recente que o Largo do Paço se não transformasse numa torre de marfim e que impediu que ao invés de um reitor passássemos a dispor de um reizinho com a sua corte?
iii) Terceira ideia-chave do “MANIFESTO”: "uma interpretação restritiva do RJIES e uma recepção institucional que viesse a abdicar da história da Universidade do Minho e da sua experiência de governo e de participação através de órgãos colegiais, poderia transformá-la, a breve trecho, numa organização altamente hierarquizada, de pendor centralista e unipessoal”.
Bem intencionadas que sejam as palavras que antes se enunciam, não sou capaz de deixar de esboçar um sorriso irónico ao lê-las. Quando se reclama a preservação de culturas organizacionais e práticas de exercício do poder, a dificuldade que amiúde se sugere é que há práticas e modelos organizacionais que era melhor esquecer, para sempre: atente-se no exercício de faz de conta dos Senados e Assembleias da UMinho, para não falar já no papel triste de um arremedo de parlamento chamado Conselho Académico. Sobre os riscos “de pendor centralista e unipessoal” não digo nada porque já disse tudo no número anterior. A 3ª pergunta e as seguintes, dela derivadas, só podem ser mesmo: mas que raio de Universidade é que querem os colegas? Uma Universidade sem projecto (de Universidade, digo)? Sem liderança (porque liderar é mobilizar projectos e vontades)? Sem modelo organizacional (porque não o tem agora e há anos que se vem recusando assumi-lo)?
É bem-vindo o debate, disse. A dificuldade é que não estamos habituados a tê-lo e o hábito vai fazendo o monge. Acresce que desafios exigentes só podem ser enfrentados de olhos (bem) abertos.
J. Cadima Ribeiro
i) Primeira ideia-chave do “MANIFESTO”: “Entendemos que o RJIES não dá resposta positiva a alguns dos mais importantes anseios expressos por variados sectores universitários”.
Temos aqui o assumir da crítica (da rejeição?) do RJIES. Crítica legítima, sem dúvida, que partilho, em grande medida. O problema é que se me sugere fora de prazo. Daí a 1ª pergunta que me ocorre endereçar aos meus caros colegas: o desafio de hoje não é já o da implementação da lei (boa ou má, limitando-lhe os estragos)?
ii) Segunda ideia-chave do “MANIFESTO”: "Insistimos, pelo contrário, em considerar que a Universidade é uma comunidade de professores, estudantes e funcionários não docentes que se deve abrir à sociedade, assumindo-se como uma “cidade” que se auto-governa democraticamente. Única forma, de resto, de permitir a construção colectiva de uma Universidade cidadã […]".
Se lhe juntarmos a proposta de um Conselho Geral consituído por 35 elementos, é a fuga populista do discurso. Partilhando da ideia de universidade como comunidade e como espaço de liberdade, encontro neste enunciado a dificuldade de perceber o que é que isso tem que ver com a existência de órgãos de orientação estratégica, de composição restrita e integrando membros externos, e que é que isso tem que ver com a exigência de diálogo e negociação entre o reitor, nomeado, e a dita comunidade universitária. Isso leva-me à 2ª pergunta: foi o auto-governo e a eleição do reitor por uma assembleia algo mais alargada do que a que é possível hoje constituir que garantiu no passado recente que o Largo do Paço se não transformasse numa torre de marfim e que impediu que ao invés de um reitor passássemos a dispor de um reizinho com a sua corte?
iii) Terceira ideia-chave do “MANIFESTO”: "uma interpretação restritiva do RJIES e uma recepção institucional que viesse a abdicar da história da Universidade do Minho e da sua experiência de governo e de participação através de órgãos colegiais, poderia transformá-la, a breve trecho, numa organização altamente hierarquizada, de pendor centralista e unipessoal”.
Bem intencionadas que sejam as palavras que antes se enunciam, não sou capaz de deixar de esboçar um sorriso irónico ao lê-las. Quando se reclama a preservação de culturas organizacionais e práticas de exercício do poder, a dificuldade que amiúde se sugere é que há práticas e modelos organizacionais que era melhor esquecer, para sempre: atente-se no exercício de faz de conta dos Senados e Assembleias da UMinho, para não falar já no papel triste de um arremedo de parlamento chamado Conselho Académico. Sobre os riscos “de pendor centralista e unipessoal” não digo nada porque já disse tudo no número anterior. A 3ª pergunta e as seguintes, dela derivadas, só podem ser mesmo: mas que raio de Universidade é que querem os colegas? Uma Universidade sem projecto (de Universidade, digo)? Sem liderança (porque liderar é mobilizar projectos e vontades)? Sem modelo organizacional (porque não o tem agora e há anos que se vem recusando assumi-lo)?
É bem-vindo o debate, disse. A dificuldade é que não estamos habituados a tê-lo e o hábito vai fazendo o monge. Acresce que desafios exigentes só podem ser enfrentados de olhos (bem) abertos.
J. Cadima Ribeiro