1. A minha unidade de investigação (NIPE) mantém a prática de organizar regularmente seminários onde gente da casa ou convidados das mais diversas universidades, portuguesas ou não, têm a oportunidade de fazer breves apresentações dos resultados da investigação que têm em curso e recolher dos comentários aí recebidos uma primeira avaliação da maturidade da reflexão mantida e dos textos que prepararam. No seminário mais recente esteve um jovem da própria unidade, que é também colaborador do Banco Central Europeu, e que, enquadrando o tema que escolheu, se referiu a um seminário semelhante, ocorrido numa universidade estrangeira de renome, no ano de 2006. O aspecto mais saliente do referido evento foi que o animador da sessão, referindo-se à situação económica e financeira vivida pelos Estados Unidos antecipou a respectiva “falência” a prazo mais ou menos curto. Não é esse, no entanto, o aspecto a que quero referir-me mas, antes, à intervenção crítica feita de seguida por um outro eminente académico presente na sessão, que proclamou a fragilidade da análise de situação que era feita por não se sustentar em qualquer modelo de natureza quantitativa. Na sessão, para apoiar os seus argumentos, o analista não fizera uso de qualquer instrumento econométrico ou afim.
2. O caso que se invoca fez-me lembrar uma conversa que mantive há bastantes anos com o orientador científico da minha tese de doutoramento sobre o que é o método científico, tendo ambos concordado que este não se confundia com a formalização matemática dos modelos económicos, se bem que esta seja amiúde bastante útil, até pela economia de linguagem que permite. Curiosamente, nas provas públicas a que me sujeitei não me libertei de ser criticado por um dos arguentes por usar uma linguagem escrita que fazia apelo a alguma beleza formal (literária), inconveniente por, supostamente, ser pouco própria para ser usada numa tese de Economia. Deduzi que o(a) interpelante considerava que bom economista é aquele que lida com rudeza com as palavras, tratando-as como se de pedregulhos se tratasse. Alternativamente, deveria abdicar de usar palavras e expressar-se alinhando fórmulas matemáticas umas atrás das outras, como vi feito por um colega de Lisboa numa sessão de apresentação de projectos de investigação candidatos a financiamento do organismo público específico existente. Na altura (e talvez ainda hoje), essa era via garantida para assegurar o financiamento do respectivo projecto.
3. A segunda lembrança que o dito caso me trouxe é muito mais recente e leva-me a um texto de opinião que li e revi, escrito por um dos meus filhos, José Pedro Cadima, de 19 anos, e que ele intitulou “Uma Caricatura”. Nesse texto, reporta-se precisamente à crise financeira e económica que atravessamos. Abre-o com a afirmação de que a presente crise lhe faz lembrar o 11 de Setembro. A analogia decorre-lhe de nos meses seguintes aos acontecimentos terroristas terem sido publicitadas várias situações que documentavam várias falhas de informação nas mais diversas agências de segurança Norte-Americanas, quer dizer, todas elas tinham tido algum tipo de pista quanto à existência de planos terroristas mas consideradas isoladamente essas pistas não levavam a lado nenhum e, portanto, não permitiram prevenir os trágicos acontecimentos da data invocada. Similarmente, caricaturando o contexto económico que levou à presente crise, ele propõe o seguinte diálogo entre dois economistas, num encontro no café:
“- Olá Economista! Como te têm estado a correr as coisas?
- Têm estado muito bem, pá! Fizemos mais uns fundos hipotecários de alto risco e os investidores já se atiraram todos a eles!
- Hei! Isso é cá uma sorte! Lá na sucursal, estamos numa enorme encruzilhada. Então, não é que os tipos do crédito de alto risco nos pararam de pagar os empréstimos para a casa?”
- Com os diabos, isso está mesmo mau para os teus lados!
Por fim, abrindo a boca surpreendidos com aquela evidente ligação, um dos dois dizia:
- Espera lá!”
O articulista remata este diálogo ficcionado da seguinte forma: “a verdade é que este tipo de conversa entre dois economistas seria impossível pois, como toda a gente tem conhecimento, dois economistas quando se encontram só falam de futebol.”
4. Sem sombra de dúvida que a Economia já não é o que era! Que o digam os analistas encartados e os “Compromissos Portugal” da nossa praça, que ainda não há muitos meses proclamavam as virtudes dos mercados desregulados e reclamavam menos Estado. Que o digam José Sócrates e Fernando Teixeira dos Santos, que ainda há bem poucos meses não viam à sua frente senão o défice do orçamento de Estado, aparte as várias eleições marcadas para o ano de 2009.
2. O caso que se invoca fez-me lembrar uma conversa que mantive há bastantes anos com o orientador científico da minha tese de doutoramento sobre o que é o método científico, tendo ambos concordado que este não se confundia com a formalização matemática dos modelos económicos, se bem que esta seja amiúde bastante útil, até pela economia de linguagem que permite. Curiosamente, nas provas públicas a que me sujeitei não me libertei de ser criticado por um dos arguentes por usar uma linguagem escrita que fazia apelo a alguma beleza formal (literária), inconveniente por, supostamente, ser pouco própria para ser usada numa tese de Economia. Deduzi que o(a) interpelante considerava que bom economista é aquele que lida com rudeza com as palavras, tratando-as como se de pedregulhos se tratasse. Alternativamente, deveria abdicar de usar palavras e expressar-se alinhando fórmulas matemáticas umas atrás das outras, como vi feito por um colega de Lisboa numa sessão de apresentação de projectos de investigação candidatos a financiamento do organismo público específico existente. Na altura (e talvez ainda hoje), essa era via garantida para assegurar o financiamento do respectivo projecto.
3. A segunda lembrança que o dito caso me trouxe é muito mais recente e leva-me a um texto de opinião que li e revi, escrito por um dos meus filhos, José Pedro Cadima, de 19 anos, e que ele intitulou “Uma Caricatura”. Nesse texto, reporta-se precisamente à crise financeira e económica que atravessamos. Abre-o com a afirmação de que a presente crise lhe faz lembrar o 11 de Setembro. A analogia decorre-lhe de nos meses seguintes aos acontecimentos terroristas terem sido publicitadas várias situações que documentavam várias falhas de informação nas mais diversas agências de segurança Norte-Americanas, quer dizer, todas elas tinham tido algum tipo de pista quanto à existência de planos terroristas mas consideradas isoladamente essas pistas não levavam a lado nenhum e, portanto, não permitiram prevenir os trágicos acontecimentos da data invocada. Similarmente, caricaturando o contexto económico que levou à presente crise, ele propõe o seguinte diálogo entre dois economistas, num encontro no café:
“- Olá Economista! Como te têm estado a correr as coisas?
- Têm estado muito bem, pá! Fizemos mais uns fundos hipotecários de alto risco e os investidores já se atiraram todos a eles!
- Hei! Isso é cá uma sorte! Lá na sucursal, estamos numa enorme encruzilhada. Então, não é que os tipos do crédito de alto risco nos pararam de pagar os empréstimos para a casa?”
- Com os diabos, isso está mesmo mau para os teus lados!
Por fim, abrindo a boca surpreendidos com aquela evidente ligação, um dos dois dizia:
- Espera lá!”
O articulista remata este diálogo ficcionado da seguinte forma: “a verdade é que este tipo de conversa entre dois economistas seria impossível pois, como toda a gente tem conhecimento, dois economistas quando se encontram só falam de futebol.”
4. Sem sombra de dúvida que a Economia já não é o que era! Que o digam os analistas encartados e os “Compromissos Portugal” da nossa praça, que ainda não há muitos meses proclamavam as virtudes dos mercados desregulados e reclamavam menos Estado. Que o digam José Sócrates e Fernando Teixeira dos Santos, que ainda há bem poucos meses não viam à sua frente senão o défice do orçamento de Estado, aparte as várias eleições marcadas para o ano de 2009.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado na edição de ontem do Jornal de Leiria)
Sem comentários:
Enviar um comentário