“Hoje gostava de vos propor um exercício: nada mais nada menos que recuperar algumas passagens de uma crónica de há um ano, sujeita às necessárias actualizações. Vamos então ver como resulta:
«O grande evento político do fim de ano de 1995 foi a notícia/especulação sobre o abandono da vida política por parte do Prof. Cavaco Silva, ex-primeiro ministro de Portugal e ex-presidente do PSD. Rivalizou esta notícia com a enxurrada de asneiras que levaram o governo do Engº. António Guterres, recém-empossado, a abrir algumas portagens de auto-estrada nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Felizmente, o ministro foi substituído e reina a esperança que o Sol volte a brilhar.
Na primeira ocasião que me falaram disso (do abandono da vida política por parte de Cavaco Silva, quero dizer), a minha reacção foi de descrédito. Afinal o homem também já tinha prometido isso faz um ano, e foi o que se viu. Todavia, passado o impacto dos primeiros momentos, convenci-me que não seria desadequado aproveitar o ensejo para lhe reafirmar um pedido já feito há algum tempo para que se retire, de facto. Isto é, se lhe assistem dúvidas, mande-as às malvas e volte mesmo à sua Universidade.
Não é que eu pense que a sua Universidade (a Nova, de Lisboa) tenha muito a ganhar com isso, mas cada instituição tem os professores, e os alunos, que merece, tal qual os países têm os políticos que merecem.
Indo entretanto ao que realmente importa, e não sendo questão de fazer aqui enumeração exaustiva, passo a indicar de seguida duas razões que me levam a recomendar ao doutor Cavaco Silva o seu abandono definitivo da cena política:
1º) Para mostrar o seu profundo sentido cristão de vida, dando oportunidade a outros de mostrarem, também, o seu valor e, porventura, governarem-se;
2º) Para mostrar apreço pelo trabalho e levar os jovens, e os seus admiradores em geral, a libertarem-se de uma cultura de dependência do orçamento do Estado e dos fundos financeiros europeus.
É bom que fique bem presente junto dos jovens que o trabalho é fonte de acesso a bens e serviços e factor de realização pessoal. Acresce que, na própria medida em que o próprio Prof. Cavaco Silva labutou tanto para a actual situação de trabalho mal pago vigente para os professores universitários, ele tem oportunidade de, duplamente, dar mostra de sentido cristão de vida: i) ao deixar espaço para outros; e ii) ao dar expressão explícita de desapego dos bens materiais deste mundo.
Nesse passo da sua vida, o dito político não pode sequer queixar-se de não ter tido já suficiente expressão de apreço pelas populações do seu labor de dez anos à frente dos destinos do país. Se bem me recordo, os resultados das eleições parlamentares de Outubro pp. foram unicamente tidos como um tributo à governação cavaquista.
Entretanto, como deixei dito antes, estas são apenas duas das múltiplas razões que poderia invocar com a finalidade de assistir o Prof. Cavaco Silva na sua decisão de regressar à Universidade Nova de Lisboa. São bem ponderosas, todavia, pelo que fico a aguardar que decida bem, no interesse dos portugueses (que sei que preza acima de tudo)».”
J.C.
«O grande evento político do fim de ano de 1995 foi a notícia/especulação sobre o abandono da vida política por parte do Prof. Cavaco Silva, ex-primeiro ministro de Portugal e ex-presidente do PSD. Rivalizou esta notícia com a enxurrada de asneiras que levaram o governo do Engº. António Guterres, recém-empossado, a abrir algumas portagens de auto-estrada nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Felizmente, o ministro foi substituído e reina a esperança que o Sol volte a brilhar.
Na primeira ocasião que me falaram disso (do abandono da vida política por parte de Cavaco Silva, quero dizer), a minha reacção foi de descrédito. Afinal o homem também já tinha prometido isso faz um ano, e foi o que se viu. Todavia, passado o impacto dos primeiros momentos, convenci-me que não seria desadequado aproveitar o ensejo para lhe reafirmar um pedido já feito há algum tempo para que se retire, de facto. Isto é, se lhe assistem dúvidas, mande-as às malvas e volte mesmo à sua Universidade.
Não é que eu pense que a sua Universidade (a Nova, de Lisboa) tenha muito a ganhar com isso, mas cada instituição tem os professores, e os alunos, que merece, tal qual os países têm os políticos que merecem.
Indo entretanto ao que realmente importa, e não sendo questão de fazer aqui enumeração exaustiva, passo a indicar de seguida duas razões que me levam a recomendar ao doutor Cavaco Silva o seu abandono definitivo da cena política:
1º) Para mostrar o seu profundo sentido cristão de vida, dando oportunidade a outros de mostrarem, também, o seu valor e, porventura, governarem-se;
2º) Para mostrar apreço pelo trabalho e levar os jovens, e os seus admiradores em geral, a libertarem-se de uma cultura de dependência do orçamento do Estado e dos fundos financeiros europeus.
É bom que fique bem presente junto dos jovens que o trabalho é fonte de acesso a bens e serviços e factor de realização pessoal. Acresce que, na própria medida em que o próprio Prof. Cavaco Silva labutou tanto para a actual situação de trabalho mal pago vigente para os professores universitários, ele tem oportunidade de, duplamente, dar mostra de sentido cristão de vida: i) ao deixar espaço para outros; e ii) ao dar expressão explícita de desapego dos bens materiais deste mundo.
Nesse passo da sua vida, o dito político não pode sequer queixar-se de não ter tido já suficiente expressão de apreço pelas populações do seu labor de dez anos à frente dos destinos do país. Se bem me recordo, os resultados das eleições parlamentares de Outubro pp. foram unicamente tidos como um tributo à governação cavaquista.
Entretanto, como deixei dito antes, estas são apenas duas das múltiplas razões que poderia invocar com a finalidade de assistir o Prof. Cavaco Silva na sua decisão de regressar à Universidade Nova de Lisboa. São bem ponderosas, todavia, pelo que fico a aguardar que decida bem, no interesse dos portugueses (que sei que preza acima de tudo)».”
J.C.
(reprodução integral de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 96/01/12, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)
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