«Os representantes das duas associações de directores de escolas do país calculam que nesta quinta-feira tenham sido retirados "milhares" de professores do concurso para Destacamento por Ausência de Componente Lectiva (DACL). Mas, apesar de aliviados com a redução dos chamados horários zero, não estão satisfeitos. Dizem que o processo criou desigualdades e "esgotou" professores e directores.
"Tem sido o caos", lamentava Adelino Calado, da direcção da Associação de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP). Nesta quinta-feira era o último dia para validar ou não as candidaturas a DACL. Às 18h30, os mesmos directores que há duas semanas enviaram para DACL professores de carreira - alguns com dezenas de anos de serviço - acabavam de dar o click na aplicação informática que permitiu "salvar" muitos deles.
Quantos, em todo o país, foram nesta quinta-feira retirados do concurso, não se sabe. E o Ministério da Educação e Ciência (MEC) também não revelou o número de professores que há duas semanas ficaram com horário zero. Mas quer Adelino Calado quer Manuel Pereira, este presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), calculam que "terão sido muitos, muitos milhares".
Ambos acreditam que o número foi "muitíssimo superior" ao que o MEC previu, quando, "para libertar a escola e professores contratados, fez a revisão curricular, aumentou o número de alunos por turma e criou os novos mega-agrupamentos". Assim interpretam o facto de, poucos dias depois de os professores com horário zero terem sido identificados, o ministro Nuno Crato ter apresentado o programa de apoio ao sucesso e prevenção do abandono escolar, destinado a "garantir a ocupação de tempos lectivos daqueles docentes".
"Foi de loucos. Numa semana mandaram-me cumprir a nova legislação e identificar - por excesso, sob pena de responsabilização individual - todos os professores para os quais não estava garantida actividade lectiva em 2012/2013. Na outra o MEC põe-nos a refazer a distribuição de serviço para - de forma responsável e a bem dos alunos, claro - conseguirmos salvar a maior parte dos colegas", desabafava ontem Margarida Girão, directora do Agrupamento Alice Gouveia, em Coimbra. Há duas semanas mandara para DACL 35 professores de carreira. Já tinha conseguido "salvar" quase 30 e estava com esperança de salvar os restantes, até ao encerramento da aplicação. Elói Gomes, director do agrupamento de Anadia, contava recuperar nesta quinta-feira "uns 15 a 16" dos 79 professores que enviou para DACL, e tirar do concurso "mais uns 30 a 40" na segunda fase de "repescagem", entre 9 e 14 de Agosto.
Os critérios usados variaram. Pedro Araújo, dirigente da ANDE, recuperou 13 dos 20 docentes que havia indicado, graças a duas "medidas" propostas pelo MEC: desdobrou as turmas dos cursos profissionais e desfez os horários de informática, distribuindo das horas pelos três professores e atribuindo também aos três tarefas na manutenção dos equipamentos informáticos.
Margarida Girão já considerou que, para cumprir a lei, só poderia mexer no único professor de cada grupo com horário incompleto. A estes atribuiu "actividades" não lectivas; depois foram os "zero", aplicando-lhes "medidas" que lhes garantissem seis horas lectivas e somando-lhes "actividades".
"Nem sei o que pensar. Estou aliviada por não ter horário zero, mas confusa: vou fazer coadjuvação em várias escolas do primeiro ciclo e ter actividades na escola sede...", dizia ontem uma professora de Educação Visual e Tecnológica, com 45 anos e 13 de serviço. Contou que na escola dela, em Arrifana, foram "salvos, pelo menos, todos os "zero" de Inglês, Matemática e Português". "Adiámos o problema por um ano", disse.»
(reprodução de notícia PÚBLICO online, de 27.07.2012)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
Sem comentários:
Enviar um comentário