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domingo, novembro 04, 2007

Leitura para desenfastiar

Vão passar anos até que eu me perdoe
“Pois é verdade: há dias levantei-me às quatro e meia da noite! Vá lá, censurem-me o mau gosto, que bem mereço.
Seria bastante mais razoável que me tivesse deitado a essa hora, salvaguardado que isso se ficasse a dever a uma noite bem passada. A vida, todavia, tem destas coisas, e não é por acaso que o prémio Nobel da Economia foi atribuído a autores de contribuições teóricas que enfatizam a racionalidade limitada dos agentes económicos; o que é paradoxal, por seu turno. Consistente seria mesmo que o ponto de partida fosse a irracionalidade com que os homens conduzem as suas vidas, incluindo a vertente económica destas. Mas não; entendeu-se partir do princípio oposto e foram precisos cerca de dois séculos desde que a Economia adquiriu estatuto científico para ver o óbvio.
É bem apropriado neste caso o dito que afirma que «o que está à vista é o mais difícil de ver». Nesta situação, nem a circunstância do gato ter o rabo de fora ajudou. Não nos desviemos entretanto do que importa.
Na ocasião, o que verdadeiramente é relevante é que me levantei a meio da noite, isto é, a horas que só deveriam ser usadas para o sono ou para outros prazeres da vida. Daí que seja bem feito que me censurem, como eu me censuro. Pensando bem no assunto, julgo que vão passar alguns anos até que eu me perdoe”

J.C.

(reprodução parcial de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 96/11/01, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

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