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quinta-feira, novembro 22, 2007

"Processo de Bolonha"

A UNIÃO – Jornal online - http://www.auniao.com/
Quinta-Feira, dia 22 de Novembro de 2007
Processo de Bolonha
«Numa pequena conversa de boas vindas contou-nos que um seu colega da Universidade de Lausane vai emigrar para uma Universidade do Canada. A razão é simples. Não se sente bem no sistema de ensino superior europeu. Bem sei que a Suíça não é, propriamente, a Europa e também não parece defensável basear o argumento apenas num facto longínquo e porventura único. No entanto há muitos outros sinais de que o ensino superior europeu não anda bem, pelo menos não anda ao ritmo necessário para responder às necessidades de investigação e de ensino que o mundo parece precisar. Não anda bem quando comparamos com as universidades americanas e canadianas. Lá onde as instituições de ensino superior são empresas competitivas. Lá onde o financiamento das melhores universidades é feito por entidades privadas. Não anda bem quando muitos dos licenciados não têm emprego e muitos departamentos universitários têm dificuldade em conseguir projectos públicos e privados de investigação. Não anda bem quando muitas das instituições europeias de ensino superior têm dificuldades financeiras e não conseguem atrair os docentes e investigadores mais capacitados.
É neste ambiente de algum desalento que surge o Processo de Bolonha com alguns objectivos claros e outros mais obscuros. É claro que se trata de uma tentativa de uniformizar os graus europeus de ensino superior conferidos pelas universidades dos vários países. De facto, como é possível dinamizar o mercado único do trabalho quando o reconhecimento dos graus dos vários países não é imediato? O que é mais ou menos assente é que resulta numa diminuição das horas de aulas e no aumento das horas de trabalho dos alunos. Aliás só dessa forma é possível dar mais tempo aos professores para a investigação e reduzir o custo por aluno para responder às limitações orçamentais. É também adquirido que a orientação do ensino deixará de estar focada na aquisição de conhecimentos para passar a estar orientada para a aquisição de competências. Se bem entendo trata-se de ensinar mais investigação operacional e menos matemática, mais gestão e menos economia, mais engenharia e menos física. Ou, talvez melhor, dar a matemática na investigação operacional, a economia na gestão e a física na engenharia.
Isto serão os objectivos. Todavia, a forma como esses objectivos são implementados depende dos recursos humanos, materiais e financeiros que podem ser mobilizados e também do nível de consumação desses objectivos.
Se formos para o Norte da Europa pouco ou nada se está a fazer sobre o Processo de Bolonha porque de alguma forma se entende que os objectivos já estão atingidos. Ao fim e ao cabo o Processo de Bolonha é aproximar as Universidades do Sul aos modelos do Norte. Pelo contrário, se formos para o Sul verificamos uma total alienação da maior parte dos docentes havendo no entanto algumas mudanças grandes na forma de ensino. Os cursos passam para três anos, os mestrados passam a ser enquadrados pelo Ministério, e os doutoramentos passarão a ter programas lectivos muito semelhantes ao modelo americano. Vai melhorar? Não sei! O que sei é que a uniformização das regras vai levar naturalmente a uma hierarquização das universidades a nível europeu. E tudo começa pelos alunos. Quando muitos alunos portugueses procuram universidades inglesas, francesas, espanholas e italianas, alguma coisa vai mal no ensino em Portugal. Será que temos de começar a ensinar em inglês como fazem os holandeses?»
Tomaz Dentinho
(artigo de opinião publicado na data e no jornal identificados acima)
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[cortesia de Nuno Soares da Silva]

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