«A “Notícia” da reunião do Plenário do Senado de 28 de Janeiro
No período “antes da ordem do dia” do último Plenário do Senado, o Prof. Moisés Martins pediu para ser discutida uma notícia publicada no UMdicas. Argumentou o Professor Moisés que esta publicação, usando da mentira e do insulto, o enxovalhou. O Presidente do Senado decidiu incluir essa discussão nos Outros Assuntos. A reunião, com início pelas 10 horas, prosseguiu com os pontos agendados até cerca das 11h30, sendo a questão colocada pelo Prof. Moisés discutida na última hora e meia da reunião.
Devo assinalar, em primeiro lugar, que é deveras surpreendente que um tema que ocupou cerca de metade da reunião do Senado não seja sequer mencionado na “Notícia” que dele foi dada.
Mas afinal o que é que foi discutido? O Prof. Moisés proferiu uma declaração em que se insurgiu contra o modo como tinha sido tratado na notícia sobre a Primeira Mostra Científica do Curso de Geografia, publicada na última edição do UMdicas, cujo subtítulo, acompanhado da sua fotografia, foi “Por que não te callas?”.
Referindo que a notícia não correspondia à verdade, conforme testemunho escrito de diversos professores presentes na cerimónia, o Prof. Moisés questionou o Sr. Reitor e o Senado sobre o facto de um jornal da Universidade do Minho poder publicar uma notícia, sob anonimato, ofensiva para um professor, também Presidente do Instituto de Ciências Sociais. E perguntou, ainda, que sentido havia em a Universidade entregar a amadores a responsabilidade pela sua imagem externa. O Professor Moisés não entendia como é que era possível a Universidade ter como sua expressão externa (o UMdicas é distribuído para toda a região como encarte do Diário do Minho), uma publicação ilegal, não registada na Entidade Reguladora da Comunicação Social, sem jornalistas profissionais, e sem estatuto editorial conhecido.
O Administrador dos SASUM interveio, de seguida, para responder que ele e os seus serviços se sentiam acossados por um conjunto continuado de referências à sua actuação, e, surpreendentemente, distribuiu, muito prontamente, fotocópias de notícias sobre a mesma mostra publicadas em jornais da região. Afirmou ainda que a reacção do Prof. Moisés, ao abrigo do direito de resposta, ia ser publicada em próxima edição do UMdicas.
Em nome da Escola, o Prof. Miguel Bandeira, vice-presidente do Instituto de Ciências Sociais, leu uma declaração onde o Conselho do ICS, por unanimidade, repudiava as “afirmações falsas e insidiosas, […] uma atitude que, sendo ilegítima, por arbitrária e anónima, a não ser condenada, não garante, doravante, a todos os que laboram na Universidade do Minho o direito ao seu bom nome e o respeito pelos órgãos académicos legítimos”.
Vários membros do Senado entenderam que esta não era uma questão que merecesse ser debatida, que a mesma deveria ser resolvida com o direito de resposta ou por recurso aos tribunais. Houve mesmo quem sugerisse que uma condenação do UMdicas configuraria um acto de censura.
Em contrapartida, outros elementos do Senado, interrogaram-se sobre a atitude que a Universidade tomaria, caso algum jornal do país publicasse uma notícia ofensiva para a Universidade, ou para um dos seus membros. Certamente haveria lugar a uma tomada de uma posição institucional. Como se compreendia, então, que um jornal pago com o dinheiro da Universidade, fosse usado para insultar um docente?
Apesar de ter sido posta à votação no Senado a proposta de condenação do UMdicas, tal não veio a acontecer, dado alguns dos presentes na reunião não se considerarem suficientemente informados. A proposta foi, pois, retirada, sendo deliberado que este assunto seria agendado em futura reunião do Senado.
Pergunto-me se este era ou não um assunto suficientemente relevante para ser noticiado? E por que razão não se ouviram vozes de protesto pelo facto de a “Notícia” deixar de fora esta questão, sobretudo quando se advoga para a nossa Universidade o modelo de uma “universidade moderna”, que “deveria ser sem condição”, com “uma liberdade incondicional de questionamento e de proposição”.
Se, de facto, todos nos revelamos pelas posições públicas que assumimos, não nos revelamos menos pelos nossos silêncios cúmplices e comprometedores.
É verdade que não há relatos neutros. O que somos capazes de fazer são relatos que reflectem sempre pontos de vista. Ora, por muito discutíveis que sejam os nossos pontos de vista, a sua expressão plural é que constitui a essência mesma da democracia.
Pedro Oliveira»
No período “antes da ordem do dia” do último Plenário do Senado, o Prof. Moisés Martins pediu para ser discutida uma notícia publicada no UMdicas. Argumentou o Professor Moisés que esta publicação, usando da mentira e do insulto, o enxovalhou. O Presidente do Senado decidiu incluir essa discussão nos Outros Assuntos. A reunião, com início pelas 10 horas, prosseguiu com os pontos agendados até cerca das 11h30, sendo a questão colocada pelo Prof. Moisés discutida na última hora e meia da reunião.
Devo assinalar, em primeiro lugar, que é deveras surpreendente que um tema que ocupou cerca de metade da reunião do Senado não seja sequer mencionado na “Notícia” que dele foi dada.
Mas afinal o que é que foi discutido? O Prof. Moisés proferiu uma declaração em que se insurgiu contra o modo como tinha sido tratado na notícia sobre a Primeira Mostra Científica do Curso de Geografia, publicada na última edição do UMdicas, cujo subtítulo, acompanhado da sua fotografia, foi “Por que não te callas?”.
Referindo que a notícia não correspondia à verdade, conforme testemunho escrito de diversos professores presentes na cerimónia, o Prof. Moisés questionou o Sr. Reitor e o Senado sobre o facto de um jornal da Universidade do Minho poder publicar uma notícia, sob anonimato, ofensiva para um professor, também Presidente do Instituto de Ciências Sociais. E perguntou, ainda, que sentido havia em a Universidade entregar a amadores a responsabilidade pela sua imagem externa. O Professor Moisés não entendia como é que era possível a Universidade ter como sua expressão externa (o UMdicas é distribuído para toda a região como encarte do Diário do Minho), uma publicação ilegal, não registada na Entidade Reguladora da Comunicação Social, sem jornalistas profissionais, e sem estatuto editorial conhecido.
O Administrador dos SASUM interveio, de seguida, para responder que ele e os seus serviços se sentiam acossados por um conjunto continuado de referências à sua actuação, e, surpreendentemente, distribuiu, muito prontamente, fotocópias de notícias sobre a mesma mostra publicadas em jornais da região. Afirmou ainda que a reacção do Prof. Moisés, ao abrigo do direito de resposta, ia ser publicada em próxima edição do UMdicas.
Em nome da Escola, o Prof. Miguel Bandeira, vice-presidente do Instituto de Ciências Sociais, leu uma declaração onde o Conselho do ICS, por unanimidade, repudiava as “afirmações falsas e insidiosas, […] uma atitude que, sendo ilegítima, por arbitrária e anónima, a não ser condenada, não garante, doravante, a todos os que laboram na Universidade do Minho o direito ao seu bom nome e o respeito pelos órgãos académicos legítimos”.
Vários membros do Senado entenderam que esta não era uma questão que merecesse ser debatida, que a mesma deveria ser resolvida com o direito de resposta ou por recurso aos tribunais. Houve mesmo quem sugerisse que uma condenação do UMdicas configuraria um acto de censura.
Em contrapartida, outros elementos do Senado, interrogaram-se sobre a atitude que a Universidade tomaria, caso algum jornal do país publicasse uma notícia ofensiva para a Universidade, ou para um dos seus membros. Certamente haveria lugar a uma tomada de uma posição institucional. Como se compreendia, então, que um jornal pago com o dinheiro da Universidade, fosse usado para insultar um docente?
Apesar de ter sido posta à votação no Senado a proposta de condenação do UMdicas, tal não veio a acontecer, dado alguns dos presentes na reunião não se considerarem suficientemente informados. A proposta foi, pois, retirada, sendo deliberado que este assunto seria agendado em futura reunião do Senado.
Pergunto-me se este era ou não um assunto suficientemente relevante para ser noticiado? E por que razão não se ouviram vozes de protesto pelo facto de a “Notícia” deixar de fora esta questão, sobretudo quando se advoga para a nossa Universidade o modelo de uma “universidade moderna”, que “deveria ser sem condição”, com “uma liberdade incondicional de questionamento e de proposição”.
Se, de facto, todos nos revelamos pelas posições públicas que assumimos, não nos revelamos menos pelos nossos silêncios cúmplices e comprometedores.
É verdade que não há relatos neutros. O que somos capazes de fazer são relatos que reflectem sempre pontos de vista. Ora, por muito discutíveis que sejam os nossos pontos de vista, a sua expressão plural é que constitui a essência mesma da democracia.
Pedro Oliveira»
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(reprodução integral de mensagem, com distribuição universal na rede da UMinho, que me caiu na caixa de correio electrónico na tarde de ontem)
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Ps: sobre este assunto vale a pena ler o que escreveu Jaime Rocha Gomes em Prálem D`Azurém, em texto intitulado "UMDicas e o Senado")
1 comentário:
Sinceramente, esta história parece ser de clara censura, como começa a ser prática comum,(veja-se o que aconteceu no jornal Académico). Dizem as pessoas que estiveram no evento que as declarações do senhor Moisés foram as que são transcritas no jornal, tirando a frase "(...)numa linha que nos tem habituado desde a sua candidatura a Reitor", não vejo o que possa estar mal na noticia. É pena que numa academia este tipo de situações seja cada vez mais comum
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