O perfil do consumidor português do comércio electrónico (Netsonda, 2008) diz-nos que este é maioritariamente masculino (52%), detentor de boa formação académica (37,5% possuem o ensino secundário, a que se somam 49% com o ensino superior), integrando agregados familiares pequenos (2 ou 3 membros).
Através doutras fontes (por exemplo, Jornal Têxtil, 2009, p.6), sabemos que “Apesar de não estar ´imune à crise`, o ´volume de negócios cresce desde o primeiro ano (1999) de vendas on-line`, com os consumidores portugueses a serem os que mais visitam a plataforma”. Invoca-se aqui um caso particular do comércio de vestuário que, porventura, estará em linha com a evolução sofrida por este canal comercial no mercado nacional. Curiosamente, o mesmo operador (Petit Patapon) sublinha que “A boa cobertura de lojas da marca no mundo físico em Portugal funciona aqui como elemento gerador de rácios atípicos de visita/compra” (Jornal Têxtil, 2009, p.6).
Podem ser encontrados alguns dados mais sobre o perfil dos utilizadores português e europeu da internet, incluindo os consumidores do comércio electrónico, em documentos recentes do Eurostat e da Comissão Europeia. Entre os mais importantes documentos respeitantes a esta matéria encontram-se os resultados de um inquérito às famílias sobre o acesso a e o uso da internet, aplicado no 1º trimestre de 2008, e os de um outro questionário, conduzido no 2º semestre desse mesmo ano, que veio permitir acrescentar e validar alguma informação obtida na primeira operação estatística referida.
Aparte fazer patente o progresso registado pelas famílias em anos recentes em matéria de acesso e uso da internet, os resultados obtidos são bastantes expressivos em termos de: i) tornar visível as diferenças profundas existentes no seio da União Europeia (U.E.) no que respeita quer a níveis de acesso quer a divulgação do comércio electrónico; ii) evidenciar diferenças não menos notáveis de atitude no que respeita a atitudes de compra de bens e serviços por via electrónica mantidas por diferentes segmentos etários da população e grupos de países; iii) preferências reveladas dos europeus no que respeita a produtos e serviços acedidos e/ou adquiridos através da internet; e iv) persistência de restrições legais e logísticas que vêm constringindo de forma bem evidente o comércio electrónico transfronteiriço (além-fronteiras nacionais), aparte as dificuldades subsistentes em matéria de confiança dos consumidores e as diferenças linguísticas.
Os dados do Eurostat (2008) sobre Portugal mostram o seguinte:
i) no final do primeiro trimestre de 2008, 46% das famílias tinha acesso à internet, valor que importa comparar com os 35% que se registavam em 2006 no país e os 60% da média da U.E. observados no ano primeiramente referido (2008);
ii) daqueles, em 2008, 39% dispunham de um acesso de banda larga, resultado de uma evolução sustentada que permitiu passar de um quantitativo de 24% de utilizadores de internet de banda larga em 2006 para 30% em 2007;
iii) o recurso à internet servia, sobretudo, para “aceder a informação sobre saúde”, “ler notícias, jornais ou revistas em linha”, “interagir com as autoridades administrativas” ou para “realizar operações bancárias”, uma hierarquia de usos que não diferia muito da registada na União Europeia, como um todo;
iv) entretanto, os consumidores do comércio electrónico não iam além dos 10% de todos os indivíduos situados nos escalões etários dos 16 aos 74 anos, detentores de um acesso electrónico; este número estabelece um contraste forte com a média da U.E., que era de 32%, para não considerar já os casos da Dinamarca, do Reino Unido ou da Suécia, que registavam já nessa altura taxas de utilização do canal comercial electrónico acima dos 50%, entre os indivíduos adultos; de qualquer modo, os dados relativos a Portugal denunciavam progresso neste âmbito já que em 2004 apenas 5% haviam usado a via electrónica para fazer compras;
v) em linha com os dados gerais da União Europeia, o grupo etário mais representado entre os consumidores do comércio electrónico era o dos 25 aos 34 anos, seguido de perto pelo dos 16 aos 24; o grupo etário dos 35 aos 44 anos surgia na 3ª posição; conforme era esperado, as gerações mais velhas demonstravam uma vontade residual (ou capacidade técnica) de tirar proveito deste novo canal comercial; finalmente,
vi) vale a pena sublinhar que os bens ou serviços mais comummente adquiridos via internet eram: “viagens e alojamento turístico”; “roupas e equipamentos desportivos”; e “livros, revistas e ensino à distância”; os dados médios verificados na U.E. configuravam um padrão de aquisição similar.
J. Cadima Ribeiro
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(artigo de opinião publicado na edição de 2009/11/26 do Jornal de Leiria)