«Cortes nas despesas com limpeza e segurança e professores dispensados marcam a realidade diária da Universidade Técnica de Lisboa (UTL), cujo reitor alerta para os perigos dos cortes orçamentais que...
Em declarações à agência Lusa, António Cruz Serra defende que a parcela do Orçamento de Estado dedicada às universidades "tem que ser alterada na especialidade" porque "não há instrumentos de gestão" que permitam às instituições funcionar "com um corte de dez por cento depois de já ter sido descida em 30%" a dotação orçamental para o Ensino Superior.
Para já, racionam-se "muitas despesas de coisas que põem em questão o conforto, a limpeza e a segurança, desde pequenos consumíveis aos gastos de energia", indicou o reitor.
Mas uma das consequências mais graves, que hipoteca o futuro do ensino superior em Portugal, é a não renovação do corpo docente. Não só não se contrata como, por exemplo, só na Faculdade de Arquitetura, "50 professores convidados não viram renovados os seus contratos".
Nos meios académicos internacionais, reage-se com "consternação e incredulidade" às dificuldades das universidades portuguesas, referiu António Cruz Serra: "Ninguém acredita que seja possível isto acontecer".
O histórico Instituto Superior Técnico, instituição conhecida por estar aberta à investigação 24 horas por dia fechou durante o mês de agosto pela primeira vez em 100 anos de existência, apesar de nessa altura haver projetos e teses a decorrer.
O reitor tem a certeza que "não vai ser possível gerir a Universidade Técnica de Lisboa com o orçamento atribuído" e não dúvida de que, sem alterações, durante o próximo ano serão necessários "reforços orçamentais" para as universidades conseguirem pagar ordenados.
António Cruz Serra defende que é preciso "convencer o Governo e os deputados da maioria de que se foi longe demais nos cortes para o Ensino Superior".
O reitor alerta para o perigo futuro que representa a "incapacidade de recrutar novos professores", indicando que a média de idade dos docentes na UTL é de cerca de 50 anos.
Isso significa que, além de crescer o fosso etário entre alunos e professores, quando esta geração se reformar não haverá quem a substituta.
"É terrível", lamentou o reitor, frisando que não se "passa escola", ou seja, não há hipótese de "formar os novos docentes com os mais antigos" porque com as universidades manietadas com a falta de dinheiro, "não há oportunidades para a gente mais nova" e, além disso, "os melhores saem para o estrangeiro".
Por enquanto, e porque diminuir o número de vagas "não é opção", adaptam-se as aulas e o ensino às restrições e ao número de professores e não docentes que diminui, com consequências inevitáveis ao nível da qualidade: "aulas com duzentos alunos não são o mesmo que aulas com 90, tal como um laboratório com 30 alunos é pior do que com 15".
O reitor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa - Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), Luís Reto, converge na análise dos riscos dos cortes que "irão colocar em causa a qualidade do ensino e da investigação que se tinha conseguido".
"Em muitos casos, será mesmo posta em causa a sobrevivência das instituições", frisou, ressalvando que a situação do ISCTE-IUL "não é dramática, pela elevada percentagem de receita própria face ao Orçamento do Estado", que só suporta 44% do total.
Mas os cortes já condicionam "os investimentos" e a expansão de atividades que poderiam aumentar a qualidade do ensino e da investigação, afirmou Luís Reto.
Sem redução de vagas ou dispensa de professores ou funcionários, o ISCTE-IUL, que funciona no regime de fundação, já tem "gastos muitos controlados que têm mesmo conseguido baixar todos os anos, independentemente da crise".»
(reprodução de notícia DIÁRIO DE NOTÍCIAS online, Lusa publicado a 2012-11-05)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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