«A ausência de um projeto nacional que justifique os cortes orçamentais que as instituições de ensino superior público têm vindo a sofrer desde 2005 e a consequente perda de qualidade foram duas preocupações...
"As instituições de ensino superior têm feito um grande esforço nos últimos tempos", assinalou o dirigente sindical, realçando o contributo dos docentes e dos investigadores para esses "sacrifícios". E evidenciou a "invulgar" tomada de posição do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, na última sexta-feira: "Quando um órgão desta natureza, que normalmente é muito recatado, vem publicamente denunciar a situação, isso tem de ser um sinal muito sério para a sociedade."
Uma realidade para a qual o sindicato tem vindo a alertar nos últimos dois anos, e que "coloca em causa a qualidade do ensino e da investigação", defende António Vicente. E exemplifica: "Muitos docentes têm de comprar do seu próprio bolso livros para prosseguir as suas investigações, alguns têm de pagar as fotocópias das folhas de avaliação para dar aos alunos e há até casos extremos de docentes que têm de levar papel higiénico para o seu departamento. Quando isto acontece no ensino superior, é um exemplo claro de que algo está muito mal."
Além dos cortes, o responsável do sindicato realçou a ausência de um projeto que os justifique: "Somos confrontados com cortes mas não há qualquer ideia de para que servem, qual o projeto em que se podem fundamentar."
E destacou outra questão associada a esta: "As dificuldades orçamentais vão exigir maior ponderação por parte das famílias nas decisões a tomar - e é natural que o ensino superior possa vir a sofrer diretamente com isso." Razão pela qual defendeu ser "preciso continuar a olhar para o ensino superior como um investimento com algumas garantias de segurança". "Apesar das dificuldades, as pessoas sentem que ainda vale a pena pôr os filhos a estudar no ensino superior, que é uma grande oportunidade de entrar no mercado de trabalho", disse.
Questionado sobre a existência de universidades e cursos a mais em Portugal, o presidente do SNESup citou dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para demonstrar que ainda há muito a fazer. "Se queremos ter formações mais críticas, mais desenvolvidas e formadas, com maior capacidade para ajudar o País, acho que ainda temos um longo caminho pela frente", afirmou. Considerando essencial continuar a investir no ensino superior", realçou a necessidade de se "olhar para a realidade que temos, de forma séria, antes de se tomarem decisões". António Vicente evidenciou ainda que qualquer tomada de decisão relativa à reorganização e racionalização da rede e da oferta formativa não deve ser feita "de forma avulsa e sem ponderação", mas antes "segundo um projeto do País para esta área". Responsabilidade que na primeira linha "deve ser assumida pelo Ministério da Educação", mas no âmbito "de uma concertação social no ensino superior".»
(reprodução de artigo Diário de Notícias online, de 2012-11-14)
[cortesia de Nuno Soares da Silva]
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