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quarta-feira, abril 11, 2007

Lei da avaliação das IES e “rankings”: servem? Para que servem?

Em mensagem datada de hoje, e intitulada “Lei da avaliação”, JVC (JVC-ApontamEntoS) dá-nos notícia de que “o governo aprovou uma proposta de Lei da avaliação da qualidade do ensino superior.”. Tomamos nota do facto, para o qual já vínhamos sendo prevenidos há algum tempo. Aliás, JVC e outros autores de blogues temáticos, tiveram oportunidade de produzir vários textos sobre isso.
Se o que fica dito não traz novidade, aparte a data do acto, em si, interessante é a ênfase que a proposta de lei põe na criação de “rankings” de Instituições de Ensino Superior, “um aspecto essencial em que – creio que posso falar pelos meus dois amigos e co-autores – estamos em franco desacordo", diz JVC.
A esse propósito, entre outras coisas, adianta JVC o seguinte:

«Os “rankings” são coisa inútil, perigosa e estúpida.
São coisa inútil porque só servem para muitos homenzinhos pequeninos (as senhoras só critico com uma rosa na mão) terem sonhos masturbatórios, mesmo que venham em 547º lugar mundial, mas à frente do colega de outra universidade portuguesa que vem em 549º.[…].
Nada de mal se isto fosse apenas um jogo de vaidades. No entanto, tem perigos. Os "rankings" são calculados com base em "indicadores" quantitativos, aliás variáveis. O perigo é o de as universidades, em vez de se preocuparem com os aspectos essenciais, qualitativos, da sua política de qualidade, dirigirem os seus esforços para a melhor pontuação nos critérios artificialmente definidores do "ranking".
Finalmente, os "rankings" são estúpidos. Não se trata de um campeonato de futebol, centrado a quase 100% nos golos marcados. A qualidade de uma instituição avalia-se por múltiplos factores, muitos dos quais não facilmente quantificáveis e muitas vezes impossíveis de serem reflectidos numa classificação global. […].».

Devo dizer que, no essencial, subscrevo o que o colega citado adianta nessa matéria. Faço-o, até, com particular àvontade na condição de membro da unidade de investigação (NIPE) que, em parceria com outra sedeada na FEP/UPorto, criou e mantém o único “ranking” de unidades de investigação na área da Economia actualmente existente em Portugal (eventualmente, mesmo o único “ranking” de unidades de investigação existente em Portugal). Acrescento que esse ”ranking” foi mesmo criado na ocasião em que fui director da referida unidade de investigação e, por isso, o assumo nas suas virtualidades e, muitas, limitações. Cumpria, tem cumprido, o papel que lhe reservámos e que aparece expresso na página de apresentação, que, no essencial, redigi na ocasião; cito:

Economics Research in Portugal:
People and Institutions

“The motivation to make available the ranking of economic institutions and researchers is to contribute to greater transparency in our academic field of work. It also envisages to stimulate the quality of the Portuguese researchers' scientific production.

We are well aware that the scientific production published in international journals is only a partial portray of all research done in Economics. Ideally, the quality of research should be evaluated by its contribution to economic development.

The ranking of researchers and institutions we offer follows other similar international work and the results it produces are supported in hypotheses which are detailed in the specific rankings used. The informational potential and limitations of the ranking results are strictly related to those working hypotheses and should be interpreted accordingly. Further details are discussed in the FAQ link.”
(http://www2.eeg.uminho.pt/economia/nipe/index_pt.htm)

Concluindo: i) os “rankings” têm a valia que têm – conforme sublinhado neste caso, não há que confundir a produção científica publicada em revistas internacionais com a relevância científica e técnica da produção realizada pelos centros de investigação, se bem que o que é contabilizado para o referido efeito seja componente essencial; ii) a realidade das unidades de investigação em Economia adquiriu, de facto, uma transparência que nunca teve antes, disso não há a menor dúvida (mas a questão é mesmo essa: faltava-lhe transparência básica); iii) para o NIPE, em particular, esse foi o melhor instrumento de marketing que pudemos mobilizar.
Servirá este exemplo para outras situações, nomeadamente a que aqui é invocada como pano de fundo? Tenho sérias dúvidas. E se servir, servirá para quê?

J. Cadima Ribeiro

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