A escola universitária onde trabalho arrancou no início do ano lectivo que agora se apresta para terminar com o formato dito de “Bolonha” dos seus cursos de 1º ciclo. Esta mudança gerou receios e expectativas, entre alunos e professores, pelo que supunha de mudança na estrutura dos cursos e, sobretudo, nos modelos de trabalho e de relação entre uns e outros. Fora desta equação ficava o acolhimento das “novas” formações pelo mercado de trabalho, alheado da reforma em curso, embora uma melhor adequação das formações oferecidas às necessidades das empresas e da sociedade, em geral, fosse o grande argumento invocado pelo decisor político para precipitar a mudança.
As expectativas e receios gerados são bem ilustrados nas frases que retenho adiante, da autoria de alguns dos meus alunos, disponíveis em artigos de opinião que os incitei a produzir no quadro de uma unidade curricular (u.c.) de que fui responsável.
Passemos à invocação das opiniões expressas:
i) “Se a nova estrutura do curso estiver bem organizada, será de esperar que estes jovens estejam devidamente preparados […]. No entanto, existirão algumas funções mais complexas tecnicamente que exigirão um grau de conhecimento mais especializado e aprofundado, que só poderá ser adquirido com o 2º ciclo.”
ii) “A certeza que há é a de que estamos perante um processo dinâmico e que implica mudança.”
iii) “Não é de um dia para o outro que o ensino passa da transmissão de conhecimentos para a aquisição de competências. Este é um processo gradual e, neste caso, penso que o Ministério […] não lidou da melhor forma com este processo.”
iv) “O processo de Bolonha é bastante complexo […] os possíveis retornos esperados […] só são obtidos a longo prazo […] existe uma grande incerteza quanto aos benefícios que este processo pode trazer….”
v) “Não percebo como se projecta um determinado projecto […], de forma a tentar melhorá-lo em muitos sentidos …e depois houve-se rumores que o Estado poderá fazer ainda mais cortes no financiamento do Ensino Superior…”.
Tendo dado mostras de ser avesso ao planeamento e revelado muito pouco discernimento na gestão corrente do processo, só o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) se tem revelado inabalável no seu convencimento de que tudo corre sobre rodas e que o êxito da reforma está mesmo ali, ao virar da esquina. Para tal, escudam-se o MCTES e o seu titular em números que dizem que 895 cursos já foram adaptados, mais 282 estão a caminho do ser, o que quererá dizer que, até 2008, 88% cumprirão os requisitos de Bolonha. Cumprirão?
Porquê a interrogação? Simplesmente, porque o DL 74/2006 estabelece como critério de adequação a Bolonha: a “passagem de um ensino baseado na transmissão de conhecimentos para um ensino baseado no desenvolvimento de competências”; e fala, consequentemente, em “empregabilidade”. Assim sendo, será que os 88% referidos são mesmo adequação a Bolonha? Ou, posto de outro modo, secundando o que vem escrevendo João Vasconcelos Costa no seu sítio “Reformar a Educação Superior”, não serão os sucessos conseguidos meramente administrativos?
Curiosamente, enquanto o “nosso” ministro parece assobiar de contente, numa reunião europeia de balanço, realizada em Londres há poucos dias, o sentimento que emergiu foi de desencanto, quer dizer, a avaliação que se fez foi que “Bolonha 1” não cumpriu e, por isso, é precisa outra, uma “Bolonha 2” ou uma “Bolonha pós-2010”. É precisa, sublinho, porque terá ficado por cumprir a dimensão social de Bolonha.
Isto dizendo, parecem-me de grande lucidez as dúvidas expressas pelos meus alunos, mesmo que ninguém ponha em causa a necessidade da reforma. E talvez mais preocupação devesse gerar quanto está hoje confirmado que, dizendo-se que se desencadeia uma reforma do ensino superior destinada a acrescentar-lhe eficácia social, opera-se simultaneamente uma redução drástica do financiamento, como se se pudesse fazer omoletes sem ovos.
As expectativas e receios gerados são bem ilustrados nas frases que retenho adiante, da autoria de alguns dos meus alunos, disponíveis em artigos de opinião que os incitei a produzir no quadro de uma unidade curricular (u.c.) de que fui responsável.
Passemos à invocação das opiniões expressas:
i) “Se a nova estrutura do curso estiver bem organizada, será de esperar que estes jovens estejam devidamente preparados […]. No entanto, existirão algumas funções mais complexas tecnicamente que exigirão um grau de conhecimento mais especializado e aprofundado, que só poderá ser adquirido com o 2º ciclo.”
ii) “A certeza que há é a de que estamos perante um processo dinâmico e que implica mudança.”
iii) “Não é de um dia para o outro que o ensino passa da transmissão de conhecimentos para a aquisição de competências. Este é um processo gradual e, neste caso, penso que o Ministério […] não lidou da melhor forma com este processo.”
iv) “O processo de Bolonha é bastante complexo […] os possíveis retornos esperados […] só são obtidos a longo prazo […] existe uma grande incerteza quanto aos benefícios que este processo pode trazer….”
v) “Não percebo como se projecta um determinado projecto […], de forma a tentar melhorá-lo em muitos sentidos …e depois houve-se rumores que o Estado poderá fazer ainda mais cortes no financiamento do Ensino Superior…”.
Tendo dado mostras de ser avesso ao planeamento e revelado muito pouco discernimento na gestão corrente do processo, só o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) se tem revelado inabalável no seu convencimento de que tudo corre sobre rodas e que o êxito da reforma está mesmo ali, ao virar da esquina. Para tal, escudam-se o MCTES e o seu titular em números que dizem que 895 cursos já foram adaptados, mais 282 estão a caminho do ser, o que quererá dizer que, até 2008, 88% cumprirão os requisitos de Bolonha. Cumprirão?
Porquê a interrogação? Simplesmente, porque o DL 74/2006 estabelece como critério de adequação a Bolonha: a “passagem de um ensino baseado na transmissão de conhecimentos para um ensino baseado no desenvolvimento de competências”; e fala, consequentemente, em “empregabilidade”. Assim sendo, será que os 88% referidos são mesmo adequação a Bolonha? Ou, posto de outro modo, secundando o que vem escrevendo João Vasconcelos Costa no seu sítio “Reformar a Educação Superior”, não serão os sucessos conseguidos meramente administrativos?
Curiosamente, enquanto o “nosso” ministro parece assobiar de contente, numa reunião europeia de balanço, realizada em Londres há poucos dias, o sentimento que emergiu foi de desencanto, quer dizer, a avaliação que se fez foi que “Bolonha 1” não cumpriu e, por isso, é precisa outra, uma “Bolonha 2” ou uma “Bolonha pós-2010”. É precisa, sublinho, porque terá ficado por cumprir a dimensão social de Bolonha.
Isto dizendo, parecem-me de grande lucidez as dúvidas expressas pelos meus alunos, mesmo que ninguém ponha em causa a necessidade da reforma. E talvez mais preocupação devesse gerar quanto está hoje confirmado que, dizendo-se que se desencadeia uma reforma do ensino superior destinada a acrescentar-lhe eficácia social, opera-se simultaneamente uma redução drástica do financiamento, como se se pudesse fazer omoletes sem ovos.
J. Cadima Ribeiro
(artigo de opinião publicado em Jornal de Leiria, em 07/06/14)
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