Fórum de Discussão: o retorno a uma utopia realizável - a Universidade do Minho como projecto aberto, participado, ao serviço do engrandecimento dos seus agentes e do desenvolvimento da sua região

sábado, junho 10, 2006

AG quê?

Há uns anos, em Dezembro de 2002, era 1º Ministro de Portugal José Manuel Barroso e Ministra das Finanças Manuela Ferreira Leite, reagindo ao momento económico e político que se vivia, escrevi um pequeno artigo na comunicação social que quero aqui invocar; vamos a isso:

“Nos últimos meses instalou-se em Portugal um clima de grande desânimo e descrédito. Sendo este um estado de alma profundamente funesto do ponto de vista da mobilização social e da dinâmica económica, permitimos todos que se instalasse e, pior que isso, assentou nisso a linha de força do discurso que o governo, em geral, e certos ministros, em particular, entenderam veicular aos portugueses.
Entende-se que essa estratégia possa fazer sentido enquanto o que importa sublinhar é a herança de ineficiência e ausência de visão do governo cessante. Entende-se pior quando o que passa a estar em causa é o sucesso das políticas do próprio governo em funções, e percebe-se menos, ainda, quando o que o discurso político acaba por veicular são iniciativas de gestão económica pública profundamente erradas, ultrapassadas na concepção que fazem do funcionamento dos mecanismos económicos e, além do mais, inconsistentes.
Embora, como digo, seja esse um sinal distintivo do discurso do governo do Dr. Durão Barroso, no seu todo, a nota mais negativa tem que ser atribuída à sua ministra das finanças, a quem escaparam coisas tão óbvias como a ideia que para cobrar mais receita fiscal é necessário que a actividade económica cresça de forma sustentada, e que o investidor não é mobilizado pela ideia de que ao fundo da estrada não deve esperar mais do que o precipício. Diferentemente, a subida das taxas de fiscalidade só pode gerar a retracção da receita, do mesmo modo que a retracção do investimento público não só acaba por afectar seriamente os sectores económicos implicados por essa despesa, gerando um efeito de retracção económica geral, como hipoteca o crescimento a prazo do país, ao não concretizar projectos essenciais para a modernização da infra-estrutura geral.
Perante dados tão óbvios, surpreende-me a cumplicidade dos fazedores de opinião e da comunicação social, em geral, com esta visão das coisas e estas propostas de gestão da economia. Surpreende-me tanto mais quanto se pretende passar a mensagem de que o que está em causa é rigor e seriedade na condução dos assuntos do país, porventura confundindo discurso agreste e convencimento pessoal com capacidade técnica e eficiência.
Num registo mais benévolo, pode-se admitir que o que subjaz à mencionada complacência, senão cumplicidade, será a perspectiva de que já não faltará muito para que um tal discurso se desmorone, por si, face à iminência da divulgação dos primeiros resultados de avaliação das políticas. Mas, pergunto, a que custos presentes e futuros? Não faria mais sentido prevenir o erro que ajustar a trajectória a-posteriori? Afinal qual é o conceito de cidadania que cultivamos?
Estas são as questões que se me oferecem face ao estado de passividade que vejo instaurar-se na sociedade portuguesa. São, por outro lado, como bem se percebe, a expressão escrita de um grito de revolta”.

Contrariamente ao que terá ocorrido a alguns, não pretendo com a invocação do texto em causa (que se intitulava “Manuela Ferreira Quê?”) fazer prova de que possuía na ocasião dotes de bruxo. Ocorreu-me este texto pela analogia que se me sugere existir entre a governação do país de então e a da Universidade do Minho dos últimos 4 anos. Se duvidam da acuidade da analogia, digam-me então o que vos fazem lembrar passagens como as que passo a destacar:

i) “Nos últimos (anos) instalou-se (na UMinho) um clima de grande desânimo e descrédito. Sendo este um estado de alma profundamente funesto do ponto de vista da mobilização (dos seus agentes) e da dinâmica (geral da organização), permitimos todos que se instalasse”;
ii) “Entende-se que essa estratégia possa fazer sentido enquanto o que importa sublinhar é a herança (da reitoria) cessante. Entende-se pior quando o que passa a estar em causa é o sucesso (da gestão) da própria (reitoria) em funções, e percebe-se menos, ainda, quando o que o discurso ... acaba por veicular são iniciativas de gestão (universitária) profundamente erradas, ultrapassadas na concepção que fazem do funcionamento das organizações)”;
iii) “A nota mais negativa tem que ser atribuída (ao reitor - se bem que o seu vice-reitor para a propaganda, em particular, também não esteja isento de responsabilidade -), a quem escaparam coisas tão óbvias como a ideia que para (fazer crescer o número de alunos e projectos captados e, de um modo geral, a actividade e eficiência da instituição) de forma sustentada, é necessário que (os seus agentes percebam e partilhem as orientações gizadas), e que (docentes, investigadores e funcionários não-docentes não são) mobilizados pela ideia de que ao fundo da estrada não deve esperar-se mais do que o precipício”; finalmente,
iv) “Surpreende-me a cumplicidade de (certos responsáveis intermédios da Instituição – presidentes de Escola; directores de Centros de Investigação; directores de Serviços, etc.- e) fazedores de opinião. Surpreende-me tanto mais quanto se pretende passar a mensagem de que o que está em causa é rigor e seriedade na condução dos assuntos da (Universidade), porventura confundindo discurso agreste e convencimento pessoal com capacidade técnica e eficiência”.

Esta derradeira frase era a chave para o título do artigo. Feito o ajustamento de agulha, sugere-se-me adequado que o texto passe a ser intitulado como agora proponho. Como diria um meu ex-amigo: é justo!

J. Cadima Ribeiro

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