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domingo, outubro 28, 2007

Para romper com a pasmaceira: o retorno a um passado remoto

Ainda há esperança
“Há algum tempo, um colaborador do «Notícias do Minho» despedia-se dos seus leitores alegando falta de objecto de análise ou, melhor, de combate. Na ocasião, cheguei a considerar seguir-lhe o exemplo, não tanto porque as nossas crónicas convergissem no objecto mas, antes, porque este apontamento jornalístico (Crónicas de Maldizer) se aprestava para fazer um ano.
O simbolismo da data tornava-a particularmente indicada para uma despedida em beleza. Havia, no entanto, o inconveniente da coincidência a que atrás me reporto e, para minha desgraça, o dito ex-colaborador tinha tomado a iniciativa. Por outro lado, se o momento de celebração de um ano de maldizer, salvo seja, era uma boa ocasião para procurar novos rumos, muito melhor oportunidade teria sido a comemoração do primeiro mês ou dos primeiros quinze dias. Aliás, se bem que não me recorde quem seja o autor do dito, comungo em grande parte da ideia que «não há como a primeira vez» (ou será «não há amor como o primeiro»?).
Assim sucedendo, qualquer ocasião posterior era tão boa como qualquer outra para dizer, portuguesmente, «bye, bye». Chateava-me, entretanto, a perspectiva que alguém pudesse tirar gozo pessoal do termo das minhas crónicas: conforme deixei expresso algures, os meus escritos sempre tiveram por propósito primeiro o prazer que tiro deles e só a ideia de alguém retirar daí mais gozo que eu era bastante para incomodar-me.
Tomada a decisão de permanecer no activo, permaneceu a eterna dificuldade de encontrar assunto. A verdade é que, apeado Cavaco, a análise política e jornalística ficaram, apesar de tudo, mais pobres. Realmente, há que convir que não é fácil imitar no disparate, na arrogância, na falta de bom senso, os protagonistas maiores da vida política da última década.
Se a ocasião era já de pasmaceira e escasseavam os motivos para a análise e para a crítica social até Outubro pp., depois dessa data então entrámos em período de crise aguda, e há o receio que à crónica de opinião volte a não sobrar outro tema que não seja o percalço da Sra. Etelvina no outro dia em que foi ao mercado comprar cebolas (ou tomates, já não tenho bem presente).
Resta-me, todavia, a expectativa que o Eng. Guterres e os seus doutos ministros rapidamente se ajustem às cadeiras do poder e, na boa tradição dos que os precederam, encetem a senda da asneira. Por exemplos passados, acredito que há razão para manter acesa a esperança. Muito me desiludiria o governo do Eng. Guterres se isso não viesse a suceder a curto-prazo.”

J.C.

(reprodução integral de crónica do autor identificado publicada no jornal Notícias do Minho de 95/11/25, em coluna regular genericamente intitulada “Crónicas de Maldizer”)

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