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segunda-feira, julho 03, 2006

Somos todos culpados

De um colega docente bem identificado, através de um canal paralelo a este, recebi há dias uma mensagem que, reportando-se a um texto que inseri neste “jornal de parede”, comentava que não era o reitor, este ou outro, o responsável directo por todos os erros e desmandos a que as pessoas e a instituição têm estado sujeitas, um pouco por toda a UMinho, nestes anos mais recentes. Dizia, ainda, que um reitor poderia ser um agente de transformação desta cultura institucional, a começar pela coragem que mostrasse de agir disciplinarmente contra quem prevarica de forma grave face à legalidade e ao dever de se respeitarem os direitos legítimos das pessoas, sejam elas professores ou não.
Mais acrescentava que “o cancro da instituição”, a seu ver, residia na mentalidade de muitos professores catedráticos, que interpretam essa sua condição como garantia de impunidade ou inimputabilidade. Concluía com a afirmação de que isso é que destruía energias, a participação, a criatividade e a inovação e, afinal, o prazer e o entusiasmo de avançar com novos projectos.
A reprodução do enunciado de ideias que aqui trago é da minha lavra, não sendo seguro que tenha captado literalmente tudo o pretendeu transmitir-me.
Recupero aqui esta troca de mensagens porque ela me parece transcender a simples comunicação pessoal e me permite sublinhar algumas concordâncias com o que o colega enunciava e, também, algumas dissonâncias.
A primeira concordância vai para a afirmação de o reitor (e, sem ambiguidade, é deste que estamos a falar) não ser o culpado de tudo o que vai mal na UMinho. E vai muita coisa, como parece ser consensual. Não sendo responsável por tudo, é, todavia, o primeiro, mesmo por ser a cúpula formal da organização, e por não saber partilhar nem responsabilidades nem méritos e ninguém o ter obrigado a concorrer ao lugar.
Eu iria, entretanto, mais longe e diria que responsáveis somos todos, por acção ou, como é mais comum, por omissão. Pondo maior sentido cívico, mais empenho e mais exigência não haveria espaço para tantos jogos de poder, permissividade a conluios, nem lugar para que a obstinação persistente de medíocres vingasse. Culpados somos todos, os professores catedráticos, seguramente, mas igualmente os professores associados, os auxiliares, os assistentes (grupo em vias de extinção) e os funcionários não-docentes de todas as categorias profissionais e níveis. Aliás, permitimos até que deste grupo emergissem alguns pequenos senhores do paço ou equiparados, como se um não fosse já demais. Assim dizendo, fica, por outro lado, sublinhado um elemento de discordância sobre o que me transmitiu o colega em apreço e o que, porventura, pensarão outros.
Não partilhando o ponto de vista que se defende sobre a responsabilidade do reitor e dos catedráticos, concordo ainda menos com a eficácia de soluções do tipo disciplinar. Esses institutos jurídicos não servem como instrumento de gestão e não devem informar nenhum modelo de gestão, mesmo de deriva autoritária (até porque, nos dias que correm, não fica bem). O entusiasmo, a capacidade de motivar as gentes, a força do exemplo e a nobreza de atitude, serão, esses sim, poderosos instrumentos de gestão das organizações, capazes de minimizar contrariedades e levar à superação individual e colectiva. Entusiasmo, no entanto, não o tem quem quer. Têm-no, apenas, os que são capazes de perceber o trabalho e o lazer como partilha e possuem dose bastante de altruísmo.

J. Cadima Ribeiro

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